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Publicado na Edição 301 Fevereiro 2020

Acervo FAMS

Memórias de além-mar…

Silvestre Gomes: “Minhas raízes não se quebraram nunca, e são elas que alimentam minha obra”

Memórias de além-mar…

O escritor Silvestre Gomes gravou seu depoimento ao Programa Memória-História Oral em 29 de novembro de 2018, no Salão Camoniano do Centro Cultural Português de Santos. Na entrevista, Silvestre fala sobre suas lembranças vividas em Portugal e no Brasil, onde chegou nos anos 1960, e de como suas experiências inspiram a sua obra, que já conta com três romances editados.

Vindo de Vilarinho, Manhouce, Portugal, onde nasceu em 1950, Silvestre Gomes chegou ao Brasil em 1966, radicando-se em Santos. Com sensibilidade aguçada para a música, aprendeu a tocar acordeon, piano e concertina. Cinéfilo, aliou a paixão pela sétima arte ao amor pela leitura, nascendo então o escritor, após atuar como padeiro por 33 anos. Há 15, é dono de um restaurante no centro de Santos.

Gomes, que tem como autores preferidos José Saramago e Guimarães Rosa, tem formação acadêmica em Direito e é fotógrafo amador. Fez sua estreia na literatura com o título “E agora?”, pela editora portuguesa Chiado, em 2017. O romance é uma espécie de autobiografia, onde o autor relembra a diáspora portuguesa, quando milhares de jovens deixaram seus locais de origem para não serem obrigados a servir o exército nas colônias africanas.

Em 2018 o escritor lançou o romance “A Lapa”, pela mesma editora. Centrada na Segunda Guerra Mundial, a narrativa segue uma análise de exploração e demanda do volfrâmio (como é conhecido o tungstênio em Portugal), nas montanhas serranas da Beira Interior, e do trabalho árduo, penoso, de milhares de pessoas que, não tendo outra forma de sobreviver, se sujeitavam aos sacrifícios do frio, dos perigos e mesmo da fome, para que esse minério se transformasse em metal duro para o armamento dos exércitos alemães e ingleses. Mostra-nos também os costumes, a forma de vida das gentes daquelas aldeias rurais, numa época de escassez e num regime político de ditadura.

“O Diário e o Livro”, obra lançada em 2019, também pela editora Chiado, narra a história de um jovem que não conheceu seu pai, morto na repressão política, no Brasil, quando ele era apenas um bebê. Ao ler o livro “E agora?”, que o pai tinha escrito durante sua primeira visita à aldeia, em Portugal, de onde fora obrigado, como tantos outros, a fugir ainda adolescente da guerra das colônias na África, o jovem quis conhecer suas origens.

Sobre seu processo criativo, Gomes nos conta que nunca esqueceu de sua terra natal: “Minhas raízes não se quebraram nunca, e são elas que alimentam minha obra. Além disso, nunca escrevo quando quero: minha escrita vem de uma fonte que não sei onde está”. Talvez sua inspiração venha da necessidade de registrar as memórias de sua aldeia natal, Vilarinho, que vão se perdendo com a morte dos moradores mais velhos: “As casas antigas vão fechando, hoje há apenas cerca de 30 moradores, mas já fomos 150. Com mais de 80 anos há apenas seis moradores, e as memórias da aldeia estão indo embora com eles”.

A entrevista completa de Silvestre Gomes pode ser acessada no canal oficial do Programa Memória-História Oral no Youtube, em www.youtube.com/c/programamemoriahistoriaoral

Conheça o trabalho desenvolvido pela Fundação Arquivo e Memória de Santos: acesse o site www.fundasantos.org.br

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