Edição 351Abril 2024
Quinta, 09 De Maio De 2024
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Publicado na Edição 340 Maio 2023

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Mea-culpa da construção civil

Descarbonizar: uso de tecnologias disruptivas é um caminho

Mea-culpa da construção civil

Nelson Tucci

Em um cenário a cada dia mais preocupante – o das mudanças climáticas – a construção civil desponta como protagonista. Ser o mocinho ou o vilão neste roteiro vai depender de quem o escreve, uma vez que é o motor do crescimento econômico no país ao mesmo tempo em que tem o título de mais poluidor. E como resolver isto? Existem caminhos, utilizando tecnologias disruptivas. Agora é botar a mão na massa.

Quando examinada atentamente, a cadeia de suprimentos da construção civil é extensa e, por isso mesmo, cheia de particularidades. Por exemplo, extrair bauxita (para produzir alumínio) ou a tradicional areia (material-base para o concreto), no dia a dia, pode gerar um impacto extraordinário junto ao meio ambiente, degradando o solo, destruindo rios, atacando fauna e flora, além de comunidades inteiras. Daí se buscar alternativas a materiais e procurar a mitigação de processos, a fim de produzir materiais “mais limpos”, ou ambientalmente mais corretos.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), a construção civil mundial é responsável por nada menos que 39% dos Gases de Efeito Estuda (GEE). Destes, 11% estão vinculados ao aço e cimento. Logo, é urgente que se discuta a descarbonização do setor. Esperar o mercado de carbono se desenvolver e comprar créditos pode não ser solução para se alcançar o teto de 1,5ºC de aquecimento até o ano de 2050, uma vez que o comprador (responsável pela atividade poluidora) na prática está transferindo o ônus do sequestro de carbono para (o vendedor) de quem não polui ou, ainda, que “polui só um pouquinho”, mas ainda tem crédito para “queimar” em sua atividade. Para o planeta, não adianta emitir mais carbono aqui e menos acolá. É preciso sequestrar e armazenar esse gás.

O uso de tecnologias disruptivas, certamente, é um caminho; e, como tal, deve estar na pauta do setor diariamente. Fábio Camargo, CEO da Camargo Química, aponta uma dessas soluções: “Atualmente, o mercado já apresenta soluções que retiram da atmosfera o CO2 emitido por grandes emissores, injeta na mistura para o concreto e transforma esse gás prejudicial em mineral sólido não poluente: é a união de processos químicos e de alta tecnologia para transformar o concreto em um item cada vez mais ambientalmente correto e ainda mais durável”. Segundo ele, é necessário investir em inovação neste setor, pela sua alta importância, não só como atividade humana (afinal, todos precisamos de casas) como fator de desenvolvimento econômico.

PROJEÇÃO – Ainda pelos cálculos de Camargo, a descarbonização pode ser realizada em larga escala. “Imagine você um processo de retirada e transformação de CO2 – como a descrita injeção de CO2 no concreto – em obras públicas, grandes condomínios e complexos industrias”, diz ele, acrescentando: “Somente esse tipo de tecnologia poderia reduzir anualmente 500 milhões de toneladas de emissões de CO2, o que equivale a tirar 100 milhões de carros das estradas”.

Os números parecem pesados demais, mas são reais, uma vez que não faltam estatísticas e projeções sobre a construção civil. Daí se buscar uma adequação ambiental no crescimento de uma indústria vital para a economia do país, ao mesmo tempo em que protege recursos naturais e a vida.

Visto pelo ângulo meramente econômico, o setor apresentou expansão em 2022 e, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em apresentação no último mês de março, a construção civil representa 6,9% do Produto Interno Bruto (PIB), gerando 10% dos empregos formais no país. No último exercício a cadeia produtiva da construção empregou 7,4 milhões de trabalhadores – índice só atrás do múltiplo setor de serviços.

É mais que desejável um esforço em busca de se melhorar processos produtivos e utilização de novas tecnologias (da extração da areia à produção da cerâmica decorativa, passando pelo concreto, alumínio e tantos outros materiais básicos utilizados no processo). Afinal, o mundo precisa da construção – e esta só fará sentido se servir a população respeitando os recursos naturais.Nelson Tucci é jornalista, editor de Veículos & Negócios, atualizada semanalmente em www.veiculosenegocios.blogspot.com.br

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