Edição 351Abril 2024
Quinta, 09 De Maio De 2024
Editorias

Publicado na Edição 345 Outubro 2023

Sobre a febre maculosa

Sobre a febre maculosa

Doença conhecida como tifo transmitido pelo carrapato

Eduardo Ribeiro Filetti

A febre maculosa é muito semelhante ao tifo. Inicialmente denominada febre maculosa das montanhas rochosas, a doença foi identificada pela primeira vez no final do século XIX, no estado de Idaho, Estados Unidos. Em 1906, o agente etiológico, Rickettsia rickettsii, foi descrito pelo pesquisador Howard Taylor Ricketts, que identificou o carrapato como principal vetor da transmissão. Em função da semelhança da doença com o tifo Ricketts foi convidado a colaborar em pesquisas durante um surto de tifo no México. Depois de isolar e identificar o microrganismo causador da doença, contaminou-se e veio a falecer de tifo em 1910. Os estudos de Ricketts são enaltecidos até hoje, pela grande colaboração na área médica.

No Brasil, a febre maculosa é também conhecida como tifo transmitido pelo carrapato, febre petequial, febre das montanhas ou febre maculosa brasileira. Foi reconhecida pela primeira vez no Brasil em 1929, no estado de São Paulo. Logo depois, foi descrita em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

Esta bactéria gran negativa, Rickettisia rickettsii pode causar grandes problemas para o organismo humano. Ela ocorre em países ocidentais, particularmente nos EUA, México, Panamá, Costa Rica. No Brasil, a maioria dos casos de febre maculosa se concentram na região Sudeste, com casos esparsos em outros estados brasileiros, em especial no Sul do Brasil. Essa maior incidência coincide com a presença do principal vetor e reservatório – o carrapato estrela. Estão associados a transmissão desta patologia as espécies Amblyomma cajannense. Estão ainda associadas a transmissão da febre maculosa as espécies de carrapatos Amblyomma aurelatum e Amblyomma dubitatum. O carrapato estrela se localiza em pastos ou gramados, preferencialmente em lugares distantes do sol, bem assombreados e próximos a rios e lagos. O aumento da atividade do carrapato estrela, promovendo maior contato com os seres humanos geralmente se dá de junho a outubro.

A taxa de mortalidade no Brasil é cerca de 10 vezes maior que a dos Estados Unidos. Este alto índice de mortalidade deve-se ao retardo no diagnóstico e no estabelecimento de tratamento adequado. O indivíduo que apresenta febre de moderada a alta, cefaleia (dor de cabeça), cansaço e história de picada de carrapato ou tenha frequentado área sabidamente de transmissão desta doença nos últimos quinze dias deve informar o médico infectologista o mais rápido possível.

Podem existir manifestações hemorrágicas em alguns casos.

A principal medida profilática consiste em evitar o contado com carrapato, mantendo distancia de áreas rurais sabidamente endêmicas. Caso haja necessidade de caminhar por estas áreas, devemos utilizar roupas brancas que cubram braços e pernas completamente, este tipo de roupa facilita a visualização do carrapato. Outra medida importante neste tipo de área é utilização de fitas adesivas para vedar a junção entre calças e botas. A inspeção no corpo de 3 em 3 horas, pois quanto mais rápido o carrapato for retirado menores chances de infecção. Existem pesquisas que relatam que para o carrapato estrela contaminar um ser humano precisa estar no mínimo a 4 horas preso ao mesmo.

Eduardo Ribeiro Filetti é médico veterinário, professor universitário, pós-graduado em Clínica de Pequenos Animais, pós-graduado em Cirurgia de Pequenos Animais, membro da Academia Santista de Letras.

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