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Publicado em 22/10/2020 - 7:56 am em | 0 comentários

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Trabalho híbrido pós-pandemia tende a mudar dinâmica espacial nas cidades

Fortalecimento do local, da vizinhança

Trabalho híbrido pós-pandemia tende a mudar dinâmica espacial nas cidades

Refletindo sobre as mudanças na rotina diária de milhares de pessoas, devido ao isolamento social causado pela pandemia, o Núcleo de Inteligência do A Vida no Centro elaborou o report A Casa e a Cidade – impactos da pandemia na vida urbana, tendências e insights. Uma das tendências no pós-pandemia é o trabalho híbrido, pois milhares de empresas foram obrigadas a mandar suas equipes para casa, de onde tiveram que continuam trabalhando, de forma remota.

Em muitos casos deu certo e as empresas não pensam em voltar ao sistema anterior, de escritórios abarrotados, cada um no seu computador lado a lado, todos os dias da semana. Algumas adotarão a mudança de forma permanente, outras combinarão, com alguns dias na sede e outros na casa do funcionário. E isso vale tanto para funções de renda mais alta, quanto para outras de menor renda.

“Uma parte das pessoas deixará de se deslocar diariamente, nos horários de pico, dos bairros residenciais, para regiões que concentram escritórios, aliviando um pouco o trânsito e, com mais gente nos bairros, começar a desenvolver o comércio local”, diz Denize Bacoccina, uma das diretoras do A Vida no Centro e responsável pelo estudo, junto com Clayton Melo. “O report A Casa e Cidade foi feito o objetivo de colaborar com o maior entendimento sobre o impacto da pandemia nas grandes cidades brasileiras, como São Paulo. Isso porque as transformações verificadas no isolamento estão longe de se esgotar com a reabertura da economia”, acrescenta Clayton Melo.

O trabalho foi realizado durante três meses e traz uma pesquisa quantitativa, feita em parceria com o Observatório de Turismo e Eventos (OTE) da São Paulo Turismo, por meio de questionário online com 1.521 respondentes; entrevistas em profundidade com dezenas de especialistas e trendsetters das mais variadas áreas e origens – artistas, produtores culturais, poder público e empreendedores, entre outros; desk research e conteúdo especial da plataforma A Vida no Centro.

A descentralização do trabalho, por exemplo, deve provocar mudanças na dinâmica espacial da cidade, com uma maior liberdade de escolha sobre onde morar, por exemplo. E a maior permanência em casa também leva a mudanças no espaço doméstico e no comportamento na interação com ele.

O relatório está estruturado em dois grandes capítulos: no primeiro, foram mapeadas as mudanças e as tendências na vida dentro de casa, enquanto no segundo o foco foi a vida fora de casa. Este é um resumo dos principais insights do estudo.

Casa, o novo hub. Uma das grandes tendências geradas pela pandemia é a transformação da casa no hub da vida, ou seja, a casa se tornou o lugar de tudo: vida familiar, profissional e social. É o lugar para morar, trabalhar, empreender, se divertir, estudar e se exercitar. É a casa como potência.

Home office híbrido. A experiência de trabalhar em casa agradou trabalhadores e empresas, o que sinaliza que essa modalidade vai se tornar uma realidade permanente para muitas pessoas, em especial com a adoção do modelo híbrido (alguns dias em casa, outros na empresa).

Um novo morar. A consolidação do home office gerou a necessidade de repensar o espaço doméstico. O trabalho remoto demanda uma nova casa, despertando o desejo (mais do que a necessidade) de cuidar do ambiente, adaptar cômodos e tornar os espaços mais acolhedores e também funcionais, de modo que permitam a realização das várias atividades no dia a dia.

Home fitness. A casa também é o local para atividades físicas. Aos poucos, o hábito de se exercitar em casa vai entrando na rotina, abrindo espaço para o surgimento de plataformas que oferecem aulas online, assim como a criação de serviços digitais por grandes redes de academia.

A redescoberta da cozinha. Com os restaurantes fechados – e com as restrições e os riscos – muita gente foi para a cozinha. Pesquisa A Vida no Centro/SP Turis mostra que 67% passaram a cozinhar mais em casa, sendo que 7,2% aprenderam a cozinhar neste período. E 76% pretendem continuar comendo em casa mesmo com a reabertura dos restaurantes. Além disso, no setor de alimentação houve uma migração do comércio físico para o online. A pandemia fez o brasileiro perceber que não necessariamente precisa ir a um restaurante para comer bem.

Transformação digital da cultura. “A cultura agora será híbrida”. Essa frase de Hugo Possolo, secretário municipal de Cultura de São Paulo, sintetiza a transformação do setor cultural, que agora experimenta novas linguagens, produtos e sistemas de distribuição pela internet. Um símbolo da transformação digital do setor é “A Arte de Encarar o Medo”, espetáculo online pioneiro lançado pela Cia de Teatro Os Satyros. Além disso, várias instituições passaram a promover lives e exibir atrações online, entre elas Itaú Cultural, Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e Theatro Municipal.

Valorização do local. Uma das mudanças aceleradas pela pandemia é o fortalecimento do local, da vizinhança, o que também deve favorecer o comércio de bairro. Essa tendência, chamada de Local Love por bureaus de pesquisa nacionais e internacionais, já tinha sido mapeada havia alguns anos, mas com a Covid-19 ela vem para o primeiro plano e assim deve permanecer no pós-pandemia.

Senso de comunidade. Passar mais tempo em casa serviu para reconectar as pessoas com o bairro onde moram, incluindo a maior interação entre vizinhos e criação de redes de solidariedade. Esse movimento foi captado, por exemplo, pela pesquisa Viver em São Paulo – Especial Pandemia, realizada pela Rede Nossa São Paulo, Ibope Inteligência e Sesc. Quando perguntados sobre as principais mudanças causadas pela pandemia e pelo isolamento social na relação com o bairro, 46% disseram que passaram a dar mais valor ao comércio e aos prestadores de serviços locais.

Nova relação com o espaço público. O uso dos espaços públicos pelas pessoas já era uma tendência nas grandes metrópoles brasileiras e mundiais antes da pandemia. Com a reabertura gradual das atividades nas cidades, esse desejo de ir para rua continuará forte, mas agora com algumas mudanças. A pesquisa A Vida no Centro/SP Turis indica que as pessoas terão receio de frequentar eventos com grandes aglomerações. Por outro lado, a procura por locais abertos na vizinhança, como parques, praças e locais para caminhar e passear – desde que não reúnam muitas pessoas –, deve ser uma tendência nos próximos meses, o que pode resultar numa maior reivindicação por qualidade do espaço público, como as calçadas.

Descentralização. Com o home office como um dos vetores de fortalecimento da vizinhança, do senso de comunidade e do comércio de bairro, pode haver um maior desenvolvimento regional na cidade. Para exemplificar, um possível efeito disso é o fortalecimento da economia de bairros que antes só serviam de moradia. Trabalhando em casa, a pessoa fica mais tempo no bairro, consumindo ali, e não no local onde a fica a empresa.

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