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Publicado em 25/11/2020 - 7:11 am em | 0 comentários

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Programa monitora mamíferos ameaçados de extinção na Mata Atlântica

Onça-pintada: monitoramento integrado de espécies

Programa monitora mamíferos ameaçados de extinção na Mata Atlântica

O Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar vai gerar dados para subsidiar planos de conservação da anta (Tapirus terrestris), da queixada (Tayassu pecari) e da onça-pintada (Panthera onca). A expectativa é que as atividades em campo comecem no ano que vem. O diferencial do programa é o monitoramento em larga escala. São 17 mil km² de atuação nos estados de São Paulo e Paraná – uma área equivalente a 11 cidades de São Paulo –, que integram o território da Grande Reserva da Mata Atlântica, o maior remanescente contínuo de Floresta Atlântica preservada do país.

O programa é realizado pelo Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC) e Instituto Manacá, com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, WWF-Brasil e banco ABN AMRO, e conta com a parceria da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), a Fundação Florestal, o Legado das Águas – Reserva Votorantim, Fazenda Elguero, o Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (PPG ECO – UFPR) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

De acordo com responsável técnico Roberto Fusco, do IPeC, que atua ao lado das pesquisadoras Bianca Ingberman e Mariana Landis, o programa surgiu da necessidade de uma agenda integrada para monitoramento e conservação de grandes mamíferos. Isso porque o resultado de 15 anos de pesquisa na região indicou que a maior presença dessas espécies está em locais mais elevados e remotos, deixando muitas áreas de floresta demograficamente vazias de grandes mamíferos, inclusive em Unidades de Conservação.

“A preocupação com a ausência desses animais é pela viabilidade a longo prazo das espécies, que já estão ameaçadas de extinção. É um sinal de alerta. Grandes mamíferos necessitam de áreas extensas para sobreviver, são extremamente vulneráveis à perda de habitat e à pressão de caça, sendo os primeiros a desaparecem. A proposta, portanto, é oferecer dados robustos e de qualidade que indiquem onde essas espécies estão, se elas estão diminuindo ou amentando e como estão ocupando o território”, explica Fusco, que é pós-doutorando na PPG ECO – UFPR e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).

O monitoramento integrado de espécies ameaçadas, e em larga escala, gera informações para planejamento de conservação e ajuda a criar estratégias mais efetivas para proteção e recuperação das populações desses animais. “A quantidade e qualidade dos dados influenciam diretamente na efetividade dessas ações, possibilitando uma visão mais ampla e integrada. Para a Grande Reserva Mata Atlântica, uma das regiões mais exuberantes e biodiversas do mundo, o programa visa contribuir de forma significativa com dados e informações para subsidiar os planejamentos e estratégias de proteção e recuperação das populações de grandes mamíferos. Essas espécies são essenciais para o equilíbrio do ecossistema e, uma vez que a floresta esteja saudável, continuará fornecendo os serviços ecossistêmicos que garantem o bem-estar e qualidade de vida da sociedade, principalmente a disponibilidade hídrica e a regulação do clima”, complementa Bianca, doutora em Ecologia e Conservação pela UFPR e pesquisadora do IPeC.

O bom manejo e conservação de áreas naturais atrai oportunidades de benefício socioeconômico para a região. “A Serra do Mar tem grande potencial econômico. O turismo de natureza é um exemplo. Pode gerar emprego e renda, valorizando a vocação local e mantendo a floresta em pé. São planos de manejo e de conservação bem fundamentados que catalisam essas oportunidades. Além disso, essas áreas podem receber investimento de empresas para projetos de conservação, uma prática que gera reputação e que tem atraído investidores de todo o mundo. A conservação, embasada na ciência, então, se torna um negócio com benefício mútuo”, justifica Mariana, pesquisadora do Instituto Manacá e doutoranda em Ecologia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).

Para o coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário, Robson Capretz, a Grande Reserva Mata Atlântica tem grande potencial para contribuir com o desenvolvimento regional baseado no turismo em áreas naturais e em negócios de impacto positivo ao meio ambiente. “Informações sobre as espécies que habitam a região e práticas efetivas de conservação são essenciais para embasar atividades turísticas responsáveis e sustentáveis, que também prezem pela proteção da natureza”, diz: “Outro ponto importante é que a presença em grande densidade dessas três espécies indica ótimo status de conservação dos habitats, já que elas são bem territorialistas e seletivas”.

Para desenvolver o trabalho, o Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar atua em quatro frentes de ação: Monitoramento, com coleta de dados de maneira científica e sistemática; Planejamento de Conservação, para apoiar os tomadores de decisão nas ações de proteção e manejo; Sensibilização, para gerar mais conhecimento e valorização da fauna da Mata Atlântica por toda a sociedade e, por fim, Rede de Monitoramento.

Nos estudos que antecederam a criação do programa, também liderados pelo IPeC, a participação de moradores da região gerou importantes resultados. Além de contribuir no mapeamento local de ocorrência das espécies, ajudou os pesquisadores a chegarem em áreas montanhosas de difícil acesso. Foi assim que a equipe conseguiu, através de armadilhas fotográficas, registrar, em 2018, as primeiras onças-pintadas (um casal) na Serra do Mar paranaense e outro indivíduo macho no ano seguinte.

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