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Publicado em 12/04/2023 - 6:55 am em | 0 comentários

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Preconceito com portadores e doenças mentais segue sendo um tabu

Psicofobia: ouvir, informar e debater

Preconceito com portadores e doenças mentais segue sendo um tabu

Em torno de 10% da população mundial sofrem com algum tipo de doença mental, somando cerca de 720 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). “Existe um grande estigma social quando o assunto é doença mental”, afirma o psiquiatra Júlio Dutra, presidente da Associação de Psiquiatria do Paraná (APPsiq): “Os portadores, além de sofrerem com os sintomas cruéis das doenças, precisam enfrentar os julgamentos e são duramente penalizados tendo que ouvir que isso é frescura, falta de Deus, preguiça e até fingimento. Por isso, precisamos falar sobre o assunto. Isso ajuda a tirar rótulos pejorativos daqueles que enfrentam a doença e proporciona uma esperança para aqueles que sofrem calados”.

O termo psicofobia foi criado pelo psiquiatra Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), sendo definido 12 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento à Psicofobia.

Segundo Júlio, o papel das associações, como a APPsiq, é fundamental no sentido de informar corretamente a população sobre as doenças mentais, além de conscientizar sobre sintomas e tratamentos disponíveis: “Nós, psiquiatras, temos o dever de alertar a sociedade a perceber, o quanto antes, os sintomas destas doenças que, na maioria das vezes, são silenciosas e se instalam de forma sorrateira. A demora na busca por tratamento ajuda a aumentar o preconceito, pois, amigos e familiares, aqueles que estão próximos, dizem que é frescura, que foi de uma hora para outra, que não é nada demais”.

O especialista aponta que os processos sociais, inclusive os de bullying e de preconceito, interferem no processo da doença que a pessoa está vivenciando e enfrentando: “Isso significa, também, um sintoma de como a sociedade lida com esse tipo de situação”. Então, de acordo com ele, quanto mais se fala sobre o assunto, mais se derrubam os estigmas sociais.

A data surgiu a partir de um depoimento do humorista Chico Anysio para o então presidente da ABP, Antônio Geraldo. Na ocasião, o artista revelou que realizava tratamento psiquiátrico para depressão havia 24 anos. E, não fosse isso, não teria feito grande parte das coisas que fez em vida. Chico Anysio disse que a exposição pública da doença mental poderia ajudar as pessoas a não se sentirem envergonhadas ou constrangidas por terem depressão, por exemplo. Chico é um dos mais reconhecidos humoristas brasileiros, dono de mais de 200 personagens cômicos ao longo de 65 anos de carreira. Ele morreu em março de 2012.

A partir de então, o presidente da ABP criou o neologismo psicofobia para descrever o preconceito e, desde 2014, a ABP passou a estimular a discussão sobre o assunto. O dia 12 de abril, inclusive, foi escolhido por ser o aniversário de nascimento de Chico Anysio. Em 2016, o senador Paulo Davim (PV-RN) sugeriu a criação do Dia Nacional de Enfrentamento à Psicofobia, a partir do Projeto de Lei 4592/16.

Ouvir, informar e debater são algumas das maneiras de ajudar a combater o preconceito, explica Júlio: “Diminuir o estigma em relação aos portadores de doença mental passa por conhecer exemplos de pessoas que já passaram pela doença, algumas das quais a gente nem imagina, outras que tenham renome e relevância nacional, como artistas, esportistas, entre outros”.

O Dia Nacional de Enfrentamento à Psicofobia é, também, o dia de dar voz às pessoas que sofrem com algum tipo de doença mental e com preconceitos relacionados ao tema. Nesse sentido, as pessoas poderão mais facilmente reconhecer e admitir que têm algum transtorno psiquiátrico, a fim de diagnosticá-lo mais rapidamente e tratá-lo adequadamente sem preconceitos. Entre alguns exemplos estão: ansiedade, distúrbio bipolar, síndrome do pânico, transtornos alimentares, demência, depressão.

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