Edição 351Abril 2024
Quinta, 09 De Maio De 2024
Editorias

Publicado na Edição 339 Abril 2023

Tolerâncias

Luiz Carlos Ferraz

Exercitar a tolerância, no ambiente beligerante da política, não é tarefa para fracos. Afinal, muito mais que conhecimento acadêmico e/ou experiência eleitoral, é necessário frieza para promover movimentos precisos e eficientes, combinados com uma capacidade indestrutível de se indignar. Esta, aliás (é necessário combinar!), há de ser condição sine qua non para acompanhar a evolução da administração pública – sim, pois, assim como em relação às drogas, também no âmbito dos vícios e virtudes a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma ideia, por exemplo, haverá de estar na qualidade e frequência de sua implantação. Santos, no litoral de São Paulo, foi severamente penalizada com o golpe de 1964 – e experimentou a trágica combinação da pouca qualidade dos interventores federais que usurparam o direito do eleitor, assim como a proliferação de atos arbitrários e sem participação popular. Nesta linha do tempo, em 1969 a ditadura militar declarou o município de interesse à segurança nacional, roubando-lhe a soberania, numa sequência de atos odiosos, que foram iniciados com a cassação do prefeito eleito Esmeraldo Soares Tarquínio de Campos Filho dias antes de sua posse. O que se seguiu neste mais de meio século, para vergonha da História da cidade – e que nem o ânimo da retomada da autonomia política, em 1983, parece ter penitenciado! –, está aí à mostra, no dia a dia, para quem quiser ver, seja na orla, seja na periferia; reflexão que deixo ao leitor, que saberá dimensionar o tamanho do fracasso, num exercício de tolerância, para constatar o quanto Santos afastou-se do lema que carrega em seu brasão, Patriam Charitatem et Libertatem Docui, ou À pátria ensinei a caridade e a liberdade. Hoje, não é caso de intolerância reconhecer que a cidade, que tem lugar de destaque no desenvolvimento do país, exige ser governada por pessoas comprometidas com a integridade de sua gente.

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