Nossa cidade
Ricardo Beschizza
Há uns dias entrei no marco regulatório dos idosos. Uma amiga da família perguntou como eu me sentia e o que gostaria de ganhar de presente. Respondi que me sentia com dores e queria um ombro novo, pois o joelho e lombares recauchutados já havia ganhado.
Nestas datas que marcam décadas é inevitável uma reflexão do que ficou para trás. Lembrei-me aos sete anos, em 1967, pegando o bonde ou trólebus para ir ao Colégio Santista. Quando mudamos para o edifício Laguna, em frente ao mar, o amor pela praia foi imediato: pescaria de siri na boca do canal, passar picaré com a turma do prédio, jogar futebol quase todos os dias, andar de sonrisal até a Urubuqueçaba (não havia ainda o quebra mar) e o surf, minha paixão, entrou na minha vida.
Realmente um privilégio proporcionado pelos meus pais que aproveitei muito. Em 1976, fui terminar o ensino médio no Colégio São Luís para depois ingressar na Engenharia Civil do Mackenzie. Boa parte da minha geração, em função das contingências da época, foi buscar formação universitária e oportunidade de trabalho em outras cidades. Lembro do dia que fui para São Paulo, ao sair, à porta do elevador, dizer aos meus pais que voltaria para Santos. E assim foi: retornei nos anos 80 onde as oportunidades de trabalho eram escassas em todo o país.
Emblemático à época, um bar na Avenida Paulista, de nome “O engenheiro que virou suco”, dava bem a dimensão da situação que vivíamos. Vieram planos e pacotes milagrosos nos anos subsequentes até a chegada do Real.
Neste período todo de Constituição Nova (1988) e democracia plena (1990), diversos políticos passaram pelo poder, com as mesmas promessas: Saúde, Segurança, Empregos, Educação etc. Desde meu primeiro voto, o país teve alguns momentos positivos. Contudo, as cidades, os estados e a União sempre com dificuldades financeiras, apesar da imensa tributação, não conseguem fazer investimentos, pois o gasto do dinheiro público é altíssimo e sem critérios, além da corrupção explícita.
Não se vê por parte desses entes um processo para redução de gastos e planejamento dos recursos gerados pela tributação, com benefícios à sociedade.
Agora, temos de fazer um mea culpa: elegemos e reelegemos alguns políticos e nunca cobramos nada de forma organizada e produtiva.
Em 2013, representantes do setor da indústria da Construção juntamente com o grupo A Tribuna estiveram em Maringá para conhecer o Condema – Conselho de Desenvolvimento de Maringá, formado pela sociedade civil organizada, onde são projetados e planejados os rumos da cidade para os anos vindouros. A Associação Comercial de Santos junto com a Assecob – Associação dos Empresários da Construção Civil da Baixada Santista estão propondo a formação do Condesan – Conselho de Desenvolvimento Econômico de Santos, com o envolvimento da sociedade civil para planejar Santos até 2040.
Precisamos aprender como cobrar as pessoas que elegemos e o envolvimento da sociedade civil é fundamental para que no futuro nossos cidadãos possam desfrutar os resultados deste planejamento. Guarujá também está nesse processo de formação de seu conselho. Em tempo: minha turma do Colégio Santista se reúne todo ano e aqueles que saíram da cidade, voltam e matam saudades da nossa querida Santos.
Ricardo Beschizza é engenheiro civil e presidente da Associação dos Empresários da Construção Civil da Baixada Santista (Assecob).