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Publicado na Edição 312 Janeiro 2021

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Inimigas da visão

Telas na infância podem desencadear alterações na visão

Inimigas da visão

A pandemia impôs o confinamento das crianças em casa e levou ao uso compulsivo do celular, tablet e computador nas atividades educacionais ou recreativas. De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, nossos olhos se desenvolvem até os oito anos de idade e este estilo de vida pode comprometer o sistema visual: “Isso explica porque vários estudos indicam que o excesso de telas eletrônicas na infância pode desencadear alterações na visão. Uma delas é a miopia acomodativa, dificuldade temporária de enxergar à distância provocada pelo esforço visual para perto e falta de atividade ao ar livre. A outra é o estrabismo, desalinhamento dos olhos apontado por um estudo italiano que acaba de ser publicado no Journal of Pediatric Ophthalmology & Strabismus”.

Queiroz Neto explica que o estrabismo atinge 5% da população do país e está em ascensão. Quando provocado pelas telas está associado ao excesso de informação visual e à velocidade das imagens. Para ele, os pais precisam observar os olhos das crianças: “Muitos demoram para consultar um oftalmologista porque algumas têm estrabismo intermitente em que o desalinhamento só acontece durante as atividades de maior esforço visual. A descontinuidade do sintoma é interpretada como regressão do problema e por isso acabam colocando a visão do filho em risco”.

O especialista explica que o estrabismo pode anular a visão do olho que enxerga menos e provocar grande diferença de refração ou anisometropia. O resultado é o olho preguiçoso ou ambliopia, maior causa de cegueira monocular no país: “A ambliopia só pode ser revertida até a idade de 10 anos. Depois disso não tem cirurgia ou transplante que recupere o olho mais fraco. Por isso, a observação da criança, diagnóstico e tratamento precoces são essenciais”.

Ao contrário do que muitos pensam, o mais grave do estrabismo não é a aparência, mas os efeitos na visão. Os principais, enumerados por Queiroz Neto, são: embaçamento, diplopia ou visão dupla e perda da visão de profundidade que são diagnosticados em um exame de rotina. Quando o desalinhamento é leve o tratamento pode ser feito com uso de óculos ou aplicação de toxina botulínica, o botox. A cirurgia que alinha os músculos responsáveis pelos movimentos dos olhos só é indicada em casos severos da doença.

A terapia mais utilizada para tratar ambliopia é a oclusão do olho de melhor visão para estimular o desenvolvimento do outro. Em casos de diagnóstico na fase inicial também pode ser indicado o colírio de atropina que dilata a pupila do olho de melhor visão para estimular o outro.

Queiroz Neto afirma que a melhor forma de prevenir alterações na visão da criança é através da consulta oftalmológica. A primeira deve ser feita com um ano de idade, a segunda aos 2 anos e uma terceira antes de iniciar o processo de alfabetização. O médico chama a atenção para não expor crianças menores de 2 anos ao celular, conforme preconiza a OMS (Organização Mundial da Saúde), apenas 1 hora dos 2 aos 4 anos e 2 horas entre 5 e 6 anos.

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