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Publicado em 21/12/2018 - 7:19 am em | 0 comentários

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Pesquisa identifica áreas para restaurar a Mata Atlântica

Mata Atlântica: estima-se que restam de 22 a 28% do bioma original

Pesquisa identifica áreas para restaurar a Mata Atlântica

Uma pesquisa inédita desenvolveu um algoritmo capaz de identificar as áreas prioritárias da Mata Atlântica a serem restauradas combinando três fatores essenciais: conservação da biodiversidade, mitigação de mudanças climáticas e redução de custos. Foram mapeadas 362 soluções para recuperação florestal com um custo-benefício oito vezes maior do que aquelas obtidas por métodos usuais.

Publicada na revista Nature Ecology and Evolution, a pesquisa foi liderada por Bernardo Strassburg, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), que é apoiado pelo Instituto Serrapilheira.

O algoritmo desenvolvido alcança a solução considerada ótima, que tem desempenho 33% melhor em relação às obtidas pelas ferramentas disponíveis, que se baseiam em aproximações matemáticas. “A diferença que isso faz para a Mata Atlântica é enorme: são 450 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) a menos na atmosfera, 308 espécies menos extintas e 4 bilhões de dólares de redução de custos”, afirma Strassburg, que é diretor do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS).

A pesquisa foi desenvolvida por 25 pesquisadores do Brasil, Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Suécia e Polônia. Strassburg participou do desenvolvimento do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa, instituído em 2017, que determinou que o Brasil deve restaurar, em 20 anos, 12 milhões de hectares de floresta, sendo 5 milhões de Mata Atlântica – o equivalente a 4% desse bioma.

O grupo buscou desenvolver uma metodologia para entender em quais áreas a recuperação traria um melhor custo-benefício: “Essa ferramenta deveria ter uma abordagem flexível que integrasse múltiplos critérios – não apenas a conservação da biodiversidade, a mitigação das mudanças climáticas ou a redução de custos. Queríamos um algoritmo que fizesse os três ao mesmo tempo”.

A tarefa de encontrar a solução ótima é complexa. Se essa restauração é feita em áreas com o maior benefício para a mitigação das mudanças climáticas por sequestro de carbono, as vantagens para a biodiversidade serão medianas e o custo será alto. Se ela se dá nas áreas mais benéficas para biodiversidade, a redução de CO2 na atmosfera será menos eficiente: “Os estudos nesse tema costumam ser focados na conservação da natureza que já está lá. Nós focamos na restauração do que poderia estar”.

Estima-se que hoje restam apenas de 22 a 28% da Mata Atlântica original. Por isso, definir onde serão recuperados os 5 milhões de hectares desse bioma requer uma estratégia cautelosa. As 362 soluções ótimas encontradas são diversas e decidir qual é a melhor depende dos objetivos. Uma restauração concentrada no litoral Sudeste, por exemplo, é boa para a conservação da biodiversidade, enquanto que, se feita apenas em terras mais áridas do Nordeste, que são mais baratas, os custos são reduzidos, mas os benefícios para biodiversidade e clima são muito baixos.

Em um dos melhores cenários, cada um dos três fatores – conservação da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e custos – têm um desempenho de cerca de 94%, 90% e 80%, respectivamente. “Mas definir se é melhor ter um desempenho de 94% para conservação e 90% para redução de CO2 na atmosfera ou o contrário, isso se trata de uma escolha da sociedade”, destaca Strassburg: “Soluções extremas são boas para um fator e ruim para os outros. No entanto, há aquelas que não são excelentes individualmente, mas muito boas para tudo”,

Pela legislação, cada propriedade deve ter, no mínimo, 20% de vegetação de Mata Atlântica, e as que estiverem abaixo da meta devem fazer a restauração – não necessariamente na sua própria terra, pois a lei permite que o produtor pague por essa recuperação em outros locais: “O pior cenário encontrado na análise é cada proprietário restaurar a vegetação em seu terreno, em pequenos projetos pulverizados. Sai mais caro e é pior para a biodiversidade e para o clima. Por isso, é importante considerar a inteligência espacial trazida pelas soluções do algoritmo”.

Os mapas produzidos serão utilizados como insumo para a definição de áreas prioritárias para restauração pelo Ministério do Meio Ambiente, e a metodologia está sendo replicada para outros biomas e países.

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