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Publicado em 10/10/2023 - 6:55 am em | 0 comentários

Divulgação

Mostra exibe filmes realizados em Paraty nos anos 60 a 80

Clássico de Nelson Pereira dos Santos

Mostra exibe filmes realizados em Paraty nos anos 60 a 80

A variedade de paisagens e cenários do patrimônio natural e edificado de Paraty, no litoral do Rio de Janeiro, somada à sua atmosfera artística e boêmia, fizeram da cidade uma locação ideal para a realização de diversos filmes nas últimas décadas do século 20. Mas foi nos anos de 1960 a 1980 que a cidade se transformou em um “estúdio ao ar livre”, como diz Luiz Carlos Lacerda, o Bigode.

Cineasta que mais filmou em Paraty, Bigode é o Curador da Mostra de Cinema de Paraty, promovida pela Casa da Cultura, com patrocínio da Petrobras e apoio da revista Bravo!, de 26 a 29 de outubro, no Cinema da Praça, no Centro Histórico. Embora tenha esse nome, o cinema de 80 lugares fica em um sobrado restaurado e tem ampla ação educativa e de formação do público, com programação gratuita.

O curador viveu intensamente essa fase fértil do cinema, participou de produções como “Azyllo muito louco” (1969) e Como era gostoso o meu francês (1970), ambos de Nelson Pereira dos Santos, e dirigiu os longas “Mãos Vazias” (1970), “O princípio do prazer” (1979) e diversos curtas. “A população se comportava como se vivesse em um set de filmagem e muitos atuavam como figurantes”, lembra Bigode.

A Mostra vai exibir nove longas e quatro curtas, em sessões diárias (programação abaixo). Estão confirmadas as presenças das atrizes Claudia Ohana e Laura Prado e dos cineastas Bruno Barreto e Walter Lima Jr. que, junto com Luiz Carlos Lacerda, serão protagonistas de um encontro histórico daqueles que filmaram em Paraty.

Bigode relembra que o primeiro filme feito em Paraty foi o longa “Estrela da manhã”, rodado em 1948 e lançado em 1950 e que, apesar da presença de Dorival Caymmi no elenco e na trilha sonora, não chegou a ser um sucesso de público ou crítica. Seria a partir de “Brasil ano 2000” (1968), de Walter Lima Jr., que se iniciaria um intenso ciclo de produções, contando com a atuação de figuras do Cinema Novo, como o próprio Walter, Nelson e Ruy Guerra, além da atriz Leila Diniz, e a participação de paratienses, como o poeta Zé Kleber à frente.

Além da beleza da arquitetura da cidade, o cineasta destaca que naquele contexto político do país, em tempos de ditadura militar, o isolamento foi uma das razões dessa efervescência cultural. “Paraty se tornou nosso ‘doce exílio’, um lugar onde a liberdade ainda era possível”, diz. Lembrando que, até 1970, Paraty esteve praticamente isolada do resto do país, sem ligação rodoviária com os grandes centros, acessível apenas por barcos ou uma péssima estrada na serra de Cunha.

O filme “Como era gostoso meu francês”, de Nelson Pereira dos Santos, escolhido para a abertura da Mostra, é uma das produções que marcou essa fase, que se prolonga até 1990, incluindo produções internacionais. O longa representou o Brasil em Cannes, teve um grande sucesso de público e mobilizou a população de Paraty na procura de figurantes que aceitassem filmar despidos e ter o cabelo raspado no corte dos índios tupinambás.

Entre os títulos emblemáticos, como não lembrar que foi em uma Ilhéus recriada em Paraty que o turco Nacib (Marcello Mastroianni) se apaixonou pela sedutora Gabriela (Sonia Braga)? O filme “Gabriela” (1983), de Bruno Barreto, baseado na obra de Jorge Amado, ficou marcado no imaginário brasileiro, com trilha sonora de Tom Jobim e uma trupe que deixou boas lembranças de sua passagem pela cidade no início dos anos 1980.

Das preciosidades dos anos 60, o público poderá conferir “Azyllo muito louco” (1969), que recebeu prêmio da Crítica em Cannes. Dos anos 80, a Mostra trará “A bela palomera” (1988, com Claudia Ohana, Tônia Carrero e Ney Latorraca), de Ruy Guerra, adaptação de um conto de Gabriel García Márquez, com colaboração no roteiro do próprio escritor, e “Ele, o boto” ( 1986, com Carlos Alberto Riccelli), de Walter Lima Jr..

Na noite de abertura (26), o cantor e violonista Raphael Moreira vai apresentar músicas das trilhas dos filmes e que marcaram a vida boêmia de Paraty, em um show seguido de degustação de cachaças locais. A Mostra terá também sessões diárias de “Cine papo”, ou bate-papos com convidados, após os filmes, em parceria com a revista Bravo!, e uma rodada de “Conversas de cinema” com os cineastas e atores/atrizes presentes, no domingo (29).

A Mostra de Cinema de Paraty é um desdobramento da exposição “Para uma história cultural de Paraty: 1945-2019”, que conta com o patrocínio da Petrobras, em cartaz na Casa da Cultura, até março de 2024, com apoio da Fundação Roberto Marinho, Prefeitura de Paraty e Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro.

Cenário de 26 filmes de longa-metragem, nove curtas, além de 21 novelas, minisséries, e ainda videoclipes, incluindo o mais famoso deles, com Mick Jagger, Paraty celebra e reafirma sua vocação cinematográfica na exposição, em que o recorte temporal contempla dois marcos: 1945, ano em que a cidade se tornou Monumento Estadual, e 2019, quando se tornou Patrimônio Mundial da Unesco. “A memória cinematográfica é um dos temas que surgiram, a partir da necessidade de se rever uma historiografia de Paraty”, diz Cristina Maseda, Diretora da Casa da Cultura.

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