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Publicado em 30/05/2016 - 11:51 am em | 0 comentários

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Ambiente público fechado livre do fumo e o impacto nas mortes por infarto

Pesquisa avaliou o número de internações e morte pela doença

Ambiente público fechado livre do fumo e o impacto nas mortes por infarto

O Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP (Incor) realizou estudo sobre o impacto da proibição do fumo em locais públicos fechados em São Paulo, a partir da promulgação da Lei Antifumo, em agosto de 2009. No Brasil, a lei vigora desde dezembro de 2014. A conclusão não deixa dúvida sobre a eficácia da medida que visa a proteger as pessoas dos riscos do fumo passivo (modalidade de poluição que, segundo estudos internacionais, está associada ao aumento de 30% a 60% no risco de infarto).

Os resultados do Incor mostram que nos primeiros dois meses da lei houve queda de 5% nas internações hospitalares pelo SUS motivadas por infarto, na cidade de São Paulo, o que significa que 142 pessoas foram poupadas de sofrer do problema nesse período. Olhando os primeiros 17 meses da promulgação da lei (período escolhido no estudo porque, segundo análises estatísticas, é o melhor para se confirmar a eficácia da medida), verificou-se redução de 12% na ocorrência de morte de pessoas por infarto, independentemente de estarem internada ou não. Em número de vidas, essa diminuição se traduz em 571 pessoas que tiveram as suas vidas poupadas.

Para chegar a esse resultado, a equipe do Incor usou um modelo estatístico chamado Arimax, que conseguiu estudar o comportamento da população da cidade de São Paulo (cerca de 11 milhões de habitantes, segundo dados da Fundação Seade/IBGE), entre 2005 e dezembro de 2010, no que diz respeito a dois parâmetros diretamente ligados com a incidência da doença cardiovascular: a taxa de internações (segundo o Datasus, que é a base de dados do Sistema Único de Saúde) e a taxa de mortes por infarto (de acordo com o SIM, da Prefeitura de São Paulo).

O modelo estatístico adotado pelo Incor também foi capaz de isolar outros fatores ambientais além daquele decorrente da lei antifumo, de maneira a ter clareza sobre o impacto exclusivamente desta última. Assim, foram avaliadas a variação de temperatura, que em extremos acarreta maior incidência de problemas cardiovasculares, e de índices de poluição, que são deletérios para cardiopatas. As séries históricas de temperatura e poluição foram fornecidas pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).

O resultado do estudo que é tese de doutorado da cardiologista Tânia Ogawa, com orientação de Jaqueline Scholz, é inédito em âmbito mundial pela contundência de seus resultados. Pesquisas americanas e europeias que já haviam detectado resultados semelhantes ao do estudo brasileiro não conseguiram isolar o efeito dessas outras variáveis (temperatura e níveis de poluição).

“Ao conseguir esse feito, a metodologia utilizada pelo estudo do Incor deu maior credibilidade à constatação dos benefícios da cessação do fumo em locais públicos fechados”, diz Jaqueline, cardiologista e coordenadora da área de cardiologia do Programa de Tratamento do Tabagismo do Incor.

Informações como a do estudo do Incor, diz ela, reforçam junto à população o benefício de tal medida, a ponto de mudar, inclusive, o comportamento individual e da família. “É cada vez mais comum, em suas residências, as pessoas irem para a sacada fumar, seja por consciência própria ou por reivindicação da família e amigos. Estamos mudando uma cultura que esteve arraigada por décadas no país”.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o tabagismo é a principal causa de morte evitável em todo o mundo, sendo responsável por 63% dos óbitos relacionados às doenças crônicas não transmissíveis. Ele é responsável por 85% das mortes por doença pulmonar crônica (bronquite e enfisema), 30% por diversos tipos de câncer (pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, colo de útero, estômago e fígado), 25% por doença coronariana (angina e infarto) e 25% por doenças cerebrovasculares (acidente vascular cerebral). O consumo de tabaco e seus derivados mata milhões de indivíduos a cada ano. Se a tendência atual continuar, em 2030 o tabaco matará cerca de 8 milhões por ano sendo que 80% dessas mortes ocorrerão nos países da baixa e média renda.

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