Desafio contínuo
A adoção de crianças mais velhas e adolescentes, rotulada como adoção tardia, ainda é um tema desafiador, que revela preconceitos e necessidades que clamam por atenção, especialmente no Brasil, onde cerca de 5.000 crianças e adolescentes estão atualmente em situação de acolhimento institucional ou familiar. Há, no entanto, uma significativa disparidade em relação à faixa etária dos candidatos, considerando que mais de 77% são de crianças acima de oito anos de idade e adolescentes, de acordo com os dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), coordenado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Mais de 35 mil pessoas e/ou casais estão habilitados, à espera de terem filhos adotivos. “Ainda existe uma crença de que crianças mais novas vêm como uma ‘folha em branco’, como pessoas ainda livres de vícios de personalidade, que poderão ser moldadas desde o início pelos pais”, afirma Jussara Marra, presidente da Associação Brasileira de Grupos de Apoio à Adoção (Angaad): “Há duas décadas, quando grande parte dos pretendentes optava por crianças até dois anos, a adoção de crianças de três anos já era considerada tardia”. Hoje, crianças acima de oito anos de idade são consideradas dentro do espectro tardio e, entre os pretendentes, prevalece a busca por crianças de até cinco anos, brancas, sem doenças graves e/ou deficiências, sem grupos de irmãos, com predileção por meninas.
A Angaad congrega e apoia os inúmeros grupos de apoio à adoção existentes no país. Ela trabalha pela convivência familiar de crianças e adolescentes e atua, desde 1999, de forma voluntária. A organização segue as diretrizes do ECA e representa os grupos junto aos poderes públicos e às organizações da sociedade civil, em ações que desenvolvem e fortalecem a cultura da adoção.