Copo meio vazio
Nelson Tucci
De janeiro a novembro deste ano a indústria automotiva nacional produziu 2.037.700 veículos. E isto é pouco ou muito? Se visto isoladamente, o crescimento de picapes, SUVs e caminhões é substancial. Agora, se analisado o potencial – foram produzidas 300 mil unidades a menos que o previsto – e se considerada a base de comparação (2021 contra 2020, o ano do pico da pandemia, com fábricas fechadas por várias semanas e as vendas caindo vertiginosamente) o desempenho é fraco. Em síntese, o setor é melhor que isto.
As pouco mais de 2 milhões de unidades (2.037.700) que saíram das plataformas de produção, nos 11 primeiros meses do ano, representam crescimento de 12,9% sobre igual período do ano anterior (jan-nov/20). Não fosse a fragilidade da base de 2020 o número teria outro viés (positivo, no caso). O que acontece, hoje e no ano passado, é decorrência de mercado, considerada a falta de componentes (sobretudo os semicondutores). Traduzindo: faltam peças e sobram compradores.
Com o mercado de veículos procurando se organizar – passada a fase mais aguda da pandemia –, ainda há que se considerar que o mês passado registrou o pior novembro desde 2005, destaca Luiz Carlos Moraes, presidente da associação das montadoras. As 206 mil unidades emplacadas de novembro último são 13,5% inferior a novembro de 2020.
Se o mercado interno está capenga, as exportações não animam muito também. Em novembro, as vendas externas foram de 28 mil unidades, representando queda de 6% sobre outubro e um largo recuo de 36,3% sobre novembro do ano passado, contabiliza a Anfavea.
A Abeifa, associação que reúne 11 importadores (alguns dos quais já com produção local), mostra que novembro último registrou retração de 8,6%, sobre outubro. Quando comparado com novembro de 2020, o mês passado mostrou performance negativa de 3,9% nos licenciamentos. O balanço é a média calculada da alta de 16,8% de importados (sobre outubro) e queda de 26,1% referentes à produção local (novembro de 21 contra novembro de 20).
Mas nem tudo é desgraça na vida. E na economia também. Para quem gosta de olhar o copo meio cheio é importante estudar os segmentos. Exemplos: no acumulado do ano (11 meses), os caminhões cresceram 46,3%, as picapes 28,4% e furgões 27,8%. Também comparados ao mesmo período de 2020, as vans cresceram 1,6% e ônibus 0,7%. Os automóveis, por sua vez, recuaram 1,3% no período, mas quando examinados os modelos observa-se que os SUVs saltaram +30% sobre o ano passado. “Aliás, os SUVs responderam por impressionantes 45,5% do total de carros de passeio produzidos em novembro”, destaca o presidente da Anfavea.
O que virá em 2022 ainda não se sabe ao certo, mas a previsão do setor automotivo nacional é de que a luta pela normalização dos componentes – e a consequente recuperação do número de emplacamentos que, na prática, significa vendas consolidadas – tenha ainda vários rounds.
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