A Champs-Élysées santista
Dona Anna Costa, com duas letras “n” mesmo, na grafia original da época em que foi aberta a mando e expensas do marido, Mathias Casimiro Alberto da Costa, o dono da “Vila Mathias”. Nada poderia ser mais romântico do que criar uma via dedicada à esposa a partir de seu próprio “corpo”, quase uma simbiose equivalente a de Adão e a costela que devirou sua companheira Eva. E, assim como a lenda bíblica, onde a maçã da discórdia repeliu ambos do Paraíso para um mundo repleto de angústias, a história da avenida Anna Costa acabou sendo responsável pela morte de Mathias, brutalmente assassinado por vizinhos que o acusaram de invadir suas terras, justamente para abrir aquela imensa avenida em direção ao mar. Assim foi o início da história da principal artéria viária de Santos, manchada de sangue, mas que o tempo tratou de limpar, até se tornar uma das mais belas páginas da nossa memória.
A avenida Dona Anna Costa nasceu acanhada, de terra batida, linha reta e empoeirada, rasgada pelos trilhos dos bondes que Mathias pretendia explorar por bastante tempo e ganhar muito dinheiro. Não foi assim para ele, mas o fora para outros que o sobrevieram. A estrada serviu de mola propulsora para o desenvolvimento da zona da orla e o surgimento do bairro mais charmoso da cidade, o Gonzaga. Não tardou para que sua extensão fosse ocupada por belíssimos casarões e sobrados, o que obrigou a municipalidade a investir em sua paisagem. A avenida ganhou uma exuberante linha de palmeiras imperiais, únicas, magistrais, que emolduraram o centro da ilha. Com o passar dos anos e décadas, surgiam igrejas, cinemas, hotéis, lojas e a simbólica Praça da Independência, ícone da cidade em memória ao grande José Bonifácio de Andrada e Silva e seus irmãos, Antonio Carlos e Martim Francisco.
Não é a toa que a cidade santista, tão sintonizada com os costumes parisienses no início do século XX, tratou a avenida Dona Anna Costa como se fosse uma espécie de Champs-Élysée. E com muita justiça a este caminho repleto de glamour e identidade.
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