Leão, onça, jaguar… nos jardins de Santos
Leão, de 1940, é obra do artista Sigismundo Fernandes
Eduardo Ribeiro Filetti
Quando pequeno, seis ou sete anos, passeando com a família no Gonzaga, fui incentivado a passar a mão na escultura da leoa que embeleza os jardins da orla. Ao chegar perto, contudo, um senhor deu um grito que quase me matou de susto e me perturbou várias noites, pois sonhava com o animal. Ficou assim na minha lembrança a leoa feroz e sempre que passava pelo local prestava atenção na figura do animal, refletindo se seria leoa, leão, onça…
Alguns anos depois li reportagem no jornal local A Tribuna, que destacou afirmação de especialista em grandes felinos, dono de circo, que esclareceu que a escultura não era de uma leoa, mas sim de uma onça. Mas, seria uma onça pintada, ou parda, também chamada sussuarana? O texto não explicava, embora alguns insistissem em dizer que se tratava mesmo de um puma… A polêmica era ampliada pelas alterações que volta e meia surgiam na classificação e origem das famílias dos felinos.
Concluída a formação acadêmica na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, ao retornar à cidade natal, sempre lembrava da estátua, com saudades da infância, parada obrigatória de turistas, enfim, um ponto turístico da orla. Ao recorrer à história, li que tudo começou em 1940. A primeira escultura, que de fato representa um leão, foi construída naquela década. Toda em concreto e pintada de branco, ela foi encomendada pela Prefeitura de Santos, na gestão do prefeito Cyro de Athayde de Carneiro, e entregue no dia 10 de outubro.
O leão é uma obra do artista Sigismundo Fernandes, que foi presidente do Centro Espanhol e Repatriação de Santos, e pela empresa Labor, que pertencia a ele. A escultura retrata o animal caminhando, com a boca aberta, simulando um rugido.
Estas informações estão nos registros da Fundação Arquivo e Memória de Santos (FAMS).
Uma outra escultura decora os jardins da praia de Santos e, efetivamente, não é de uma leoa! Foi um trabalho dos alunos das oficinas de escultura do Instituto Escolástica Rosa e o felino retratado está sentado sobre um pedestal. Por muitos anos especulou-se que a escultura seria de uma onça pintada. Em 2008 estudei a fundo esta escultura, que seria de uma leoa, mas trata-se de um jaguar. A conclusão se deu em razão do tamanho da cauda: enquanto a cauda de uma leoa tem, em média, de 30 a 50 centímetros, a do jaguar é maior. A escultura que fica na praia de Santos tem cauda de 1,20 metro. Portanto, é um jaguar.
Curiosidades desta cidade maravilhosa chamada Santos.
Eduardo Ribeiro Filetti é médico veterinário, professor universitário, cadeira nº 2 da Academia Santista de Letras.