Edição 367 Agosto 2025
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Domingo, 05 De Outubro De 2025
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Publicado em 4/09/2025 - 7:01 am em | 0 comentários

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Síndrome de Lynch aumenta o risco de desenvolver câncer colorretal

Setembro Verde: também prevenção do câncer de intestino

Síndrome de Lynch aumenta o risco de desenvolver câncer colorretal

A campanha Setembro Verde foi criada também para levar à população informações sobre rastreamento, diagnóstico precoce e prevenção do câncer de intestino, o segundo mais comum entre homens e mulheres. Quando se aborda a questão da prevenção, a análise do histórico familiar pode levantar suspeitas sobre a Síndrome de Lynch, que aumenta o risco de câncer colorretal em 40 a 80% – números altos se comparados aos 5% da população geral –, especialmente em idades mais jovens, antes dos 50 anos.

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 45 mil novos casos da doença em 2025. Também chamada de câncer colorretal hereditário não polipósico (HNPCC), a síndrome de Lynch é uma condição genética herdada que aumenta significativamente o risco de desenvolver diversos tipos de câncer, especialmente o colorretal e o endometrial.

“É a forma mais comum de câncer colorretal hereditário, sendo responsável por cerca de 2-4% dos casos de câncer colorretal e 2,5% dos casos de câncer endometrial”, pontua o oncologista clínico Fernando Medina, do Centro de Oncologia Campinas, no interior paulista.

No Brasil, não há dados específicos sobre a prevalência dos casos de Síndrome de Lynch; nos Estados Unidos, a condição afeta aproximadamente 1 em cada 279 a 300 pessoas na população geral, o que equivale a cerca de 1 milhão de portadores no país – boa parte deles desconhece a existência. “A incidência segue padrões globais, sendo mais comum em famílias com histórico de câncer colorretal ou outros tumores associados”, explica Medina.

A Síndrome de Lynch em si não apresenta sintomas, mas os cânceres associados podem causar sinais específicos. No câncer colorretal, os sintomas incluem sangue nas fezes, dor abdominal, mudanças nos hábitos intestinais (diarreia ou constipação persistente) e perda de peso inexplicada. Qualquer sintoma persistente antes dos 50 anos deve ser investigado.

O especialista frisa que o diagnóstico da Síndrome de Lynch começa com a avaliação do histórico familiar e pessoal de câncer, usando critérios que identificam famílias com múltiplos casos de câncer colorretal, endometrial ou outros associados, especialmente em idades jovens. Se houver suspeita, testes em tumores são realizados, como:

. Imuno-histoquímica (IHC): verifica a presença ou ausência de proteínas dos genes de reparo de mismatch (MMR) em amostras de tumor. A ausência de proteínas sugere síndrome de Lynch.

. Teste de instabilidade de microssatélites (MSI): avalia se o DNA do tumor apresenta instabilidade, comum em tumores relacionados à síndrome.

Se esses testes indicarem risco, testes genéticos confirmam a mutação. Tumores com MSI alto ou proteínas MMR ausentes aumentam a probabilidade de Lynch, mas mutações somáticas (não herdadas) também podem ocorrer, exigindo testes adicionais para diferenciar. “Os testes genéticos são essenciais para confirmar a síndrome de Lynch e identificar mutações em um dos cinco genes associados: MLH1, MSH2, MSH6, PMS2 ou Epcam. Esses genes são responsáveis pelo reparo de erros no DNA, e mutações neles levam à instabilidade genética, aumentando o risco de câncer”, detalha Medina.

O teste é feito com amostra de sangue ou saliva, analisando alterações no DNA por sequenciamento e análise de grandes rearranjos. Aconselhamento genético prévio é recomendado devido à complexidade dos resultados e implicações familiares.

A idade mediana de diagnóstico de cânceres associados à Síndrome de Lynch é mais jovem que na população geral. Para câncer colorretal, varia de 44 a 61 anos, e para câncer endometrial, de 48 a 62 anos, em comparação com 60-70 anos para casos esporádicos. Cânceres em portadores de Lynch tendem a surgir antes dos 50 anos.

A Síndrome de Lynch é herdada de forma autossômica dominante, o que significa que um único gene mutado, herdado de um dos pais, é suficiente para aumentar o risco de câncer. Cada filho de um portador tem 50% de chance de herdar a mutação. A síndrome não pula gerações, mas nem todos os portadores desenvolvem câncer devido à penetrância incompleta.

“Famílias com Lynch frequentemente apresentam múltiplos casos de câncer colorretal, endometrial ou outros associados, muitas vezes em idades jovens. Testes genéticos em parentes de primeiro grau (pais, irmãos, filhos) são recomendados quando uma mutação é confirmada, mas geralmente não antes dos 18 anos, salvo em famílias com cânceres muito precoces”, aconselha oncologista.

Não há cura para a Síndrome de Lynch, mas o manejo foca na prevenção e no tratamento precoce dos cânceres associados. As estratégias incluem rastreamento regular (colonoscopia anual ou bienal a partir dos 20-25 anos, ou de 2 a 5 anos antes da idade do câncer mais precoce na família); terapias medicamentosas: aspirina em baixa dose (150 mg/dia) pode reduzir o risco de câncer colorretal em até 50% em portadores, embora a dose ideal ainda esteja em estudo.

Se o câncer for detectado, o tratamento segue padrões para casos esporádicos, incluindo cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia, mas com adaptações. “Tumores associados à Síndrome de Lynch respondem melhor a imunoterapias, especialmente em estágios avançados. Cirurgias adaptativas, como ressecções mais extensas, podem ser consideradas para prevenir novos tumores”, afirma Medina.

A síndrome de Lynch exige vigilância contínua e colaboração multidisciplinar entre geneticistas, oncologistas, gastroenterologistas e outros especialistas. “Portadores devem discutir com médicos planos personalizados de rastreamento e prevenção, enquanto familiares devem buscar aconselhamento genético para avaliar riscos e opções. A conscientização e o diagnóstico precoce são fundamentais para reduzir o impacto da síndrome”, disse Medina.

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