Exposição reconstitui e articula as diversas memórias sociais do Bixiga
A partir do próximo dia 23, o Memorial Dom Orione, na capital paulista, inaugura a exposição “Epicentro Bixiga”, que apresenta o Bairro do Bixiga e sua população, através de cenografia e painéis. A visitação é gratuita, na Rua 13 de maio, 432.
A exposição – produzida por Dani Correa, financiada pela Fundação Nacional das Artes (Funarte), curadoria de Rico Malta, pesquisa de Lucas Almeida, projeto expográfico de Paula de Paoli, realização das Obras Sociais Nossa Senhora Achiropita – é dividida em três momentos: Bixiga Italiano, Bixiga Solo Negro e Bixiga é o Nordeste: “Convidamos o visitante a conhecer e se reconhecer neste acervo da pluralidade de presenças, sociabilidades, modos de viver e formas de resistir das populações africanas, italianas, nordestinas, e de seus descendentes a partir do século XIX no Bixiga”.
Montada no piso superior do Memorial Achiropita-Orione, a exposição conta com instalação imersiva, educativa e lúdica, e reúne painéis, banners, objetos, biombo, varal expositivo e cenografia que reconstitui e articula as diversas memórias sociais de um território que mantém raízes ancestrais vivas, de acordo com cada novo achado no sítio arqueológico do Quilombo Saracura, a cada edição da Festa de Nossa Senhora Achiropita, nas celebrações inculturadas da Pastoral Afro Achiropita, em cada produto comercializado nas casas do norte/nordeste presentes nas mesas dos moradores, nos ensaios de rua da Vai-Vai, nas quermesses das vilas, nos aromas e sabores das cantinas italianas e dos restaurantes nordestinos, nas pequenas mercearias, com anúncios escritos à mão, “chegou o requeijão do Ceará”, “chegou o queijo da Bahia”, em cada prato de feijoada distribuída na Festa de Ogum e os diversos doces entregues nas Festas dos Santos Cosme e Damião pelo bairro.
Bixiga Solo Negro. A presença africana e de seus descendentes nos Campos do Bixiga se deu a partir do início do século XIX, marcado pela existência da comunidade quilombola do Saracura na região.
Bixiga Italiano. Os primeiros imigrantes italianos chegaram na cidade de São Paulo a partir do final do século XIX, por conta de questões sociais e econômicas na Itália, somando-se com a proposta de substituição da mão de obra escravizada no Brasil, apoiada nas teorias do embranquecimento da população brasileira e nas políticas públicas de imigração financiadas pelo governo brasileiro, durante e após a abolição da escravidão no Brasil, em 1888.
Bixiga é o Nordeste. É necessário destacar a grande presença contemporânea da população de brasileiros de diversos estados da região do Norte/Nordeste, presente desde os anos de 1950, quando vieram para trabalhar na construção de São Paulo. Hoje, eles ocupam postos em diversos segmentos, além de atuar também nas cozinhas das cantinas, e serem proprietários de bares e restaurantes. Muitos residem em imóveis próprios, ou em pensões e cômodos de cortiços pelo bairro, os mesmos que no século passado eram ocupados por italianos.
O projeto contemplou curso de formação de monitores culturais, com duração de três meses, facilitando jovens do bairro no acesso ao rico conteúdo. Três dos participantes do curso foram contratados como estagiários e terão a oportunidade de testar seus conhecimentos e dar continuidade ao aprendizado durante o período em que a exposição Epicentro Bixiga ficar em cartaz, até 15 de setembro.