Conjunto da Obra de Oscar Niemeyer pode ter mais três bens protegidos
Nesta sexta-feira, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural reúne-se para analisar proposta de tombamento de mais três obras do arquiteto Oscar Niemeyer: Passarela do Samba da cidade do Rio de Janeiro (RJ), Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói (RJ) e Conjunto de edificações projetadas do Parque do Ibirapuera (SP). Se forem aprovados, os três bens serão integrados aos outros 24 monumentos – já tombados desde 06 de dezembro de 2007.
A 82ª reunião acontece no Palácio Gustavo Capanema, no Centro do Rio de Janeiro, e será marcada pela comemoração dos 80 anos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), quando também será apresentado um balanço e evolução da política de tombamento no Brasil.
O MAC de Niterói está localizado na Avenida Almirante Benjamin Sodré, no Mirante da Boa Viagem, e é considerado, desde a sua criação, um dos mais belos ícones culturais e cartões postais da cidade.
Inaugurado em setembro de 1996, o MAC tem arquitetura ousada. Sua forma se assemelha a de um disco voador e a fachada futurística oferece aos visitantes uma vista panorâmica inigualável. O Museu tem 2,5 mil metros quadrados de área e o edifício, propriamente, pode ser considerado uma obra de arte a ser contemplada. Sua estrutura de linhas circulares é quase uma escultura em praça aberta, na qual o espelho d’água, em sua base, e a iluminação especial conferem elegância e suavidade.
O moderno complexo arquitetônico apresenta concreto aparente em forma arredondada, marca registrada encontrada em quase todas as obras de Niemeyer. Cinco anos foi o tempo decorrido até a estrutura de quatro pavimentos ser erguida. Na obra, atuaram 300 operários e foram consumidos 3,2 milhões de metros cúbicos de concreto. O monumento tem 50 metros de diâmetro e sua estrutura consegue suportar cerca de 400 kg/m² e ventos de até 200 km/h.
O acervo do MAC possui obras de arte contemporânea datadas do século XX, inclusive um acervo de 1,2 mil obras da Coleção João Sattamini, a segunda maior de arte contemporânea do Brasil. O acervo do Museu é constituído, ainda, por exemplares de arte abstrata e até obras que retratam a Monarquia Brasileira, obtidas através de doações.
O Parque do Ibirapuera foi inaugurado em 21 de agosto de 1954 em comemoração aos 400 anos da cidade de São Paulo (SP). A ideia era converter a área alagadiça da região – que havia sido na época da colonização uma aldeia indígena – em um parque que criasse uma relação entre a natureza e o espaço urbano. Daí originou-se o nome Ibirapuera (ypi-ra-ouêra), que na língua Tupi significa árvore apodrecida.
Coube ao renomado arquiteto Oscar Niemeyer realizar o projeto arquitetônico, tendo Burle Marx a responsabilidade pelo projeto paisagístico. Com uma área de mais de 1,5 milhão de metros quadrados, o parque se transformou nas últimas décadas no mais conhecido espaço livre cultural, de lazer e recreação da cidade.
A proposta de tombamento se dá especificamente aos monumentos do parque que foram projetados por Oscar Niemeyer. Por sua relevância urbanística e cultural poderão ser inscritos no Livro do Tombo Histórico e no Livro do Tombo das Belas Artes. São eles: a Grande Marquise, o Palácio das Nações (Pavilhão Manoel da Nóbrega, atualmente ocupado pelo Museu Afro Brasil), o Palácio dos Estados (Pavilhão Francisco Matarazzo Sobrinho, atualmente desocupado), o Palácio das Indústrias (Pavilhão Armando de Arruda Pereira, atualmente ocupado pela Fundação Bienal), o Palácio de Exposições ou das Artes (Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, também conhecido como Oca, atualmente ocupado para grandes exposições), e o Palácio da Agricultura (atualmente ocupado pelo Museu de Arte Contemporânea da USP).
Inaugurado em 1984, o sambódromo do Rio de Janeiro (RJ) tomou o lugar das arquibancadas provisórias de estrutura tubular que eram montadas anualmente para os desfiles das escolas de samba. Desde o fim do século XIX, grêmios recreativos desfilavam pelas ruas da Cidade do Rio de Janeiro e no início dos anos 30 já existiam as primeiras escolas de samba oficiais. Com o surgimento de novas agremiações, o desfile foi consagrado como a principal tradição do Carnaval carioca.
O sambódromo fica localizado na Avenida Marquês de Sapucaí, no Centro do Rio, embora uma pequena parte, após a Avenida Salvador de Sá, pertença ao bairro Cidade Nova. A Sapucaí é ocupada por um grande complexo de arquibancadas e camarotes, ao longo de seus 650 metros, acomodando, no Carnaval, um público de aproximadamente 60 mil foliões. O projeto, assinado por Oscar Niemeyer, buscava criar um ícone para abrigar o espetáculo do desfile das escolas de samba, e conseguiu. Sua arquitetura, enquanto monumento urbano, carrega as características de Niemeyer, com sua simplicidade formal e austeridade de acabamentos necessários à valorização da festa, um espetáculo dinâmico, repleto de cores e contrastes.
O processo de tombamento do conjunto da obra de Oscar Niemeyer decorre de uma relação encaminhada pelo próprio arquiteto ao então secretário-executivo do Ministério da Cultura e atual ministro da Cultura, Juca Ferreira, em 12 de julho de 2007, contendo uma relação de 28 obras que o arquiteto gostaria que fossem tombadas. O envio da correspondência foi motivado por visita do então ministro da Cultura, Gilberto Gil, ao escritório do arquiteto que, em 15 de dezembro 2007 completaria 100 anos de vida.
A partir daí coube ao Iphan identificar, no universo de sua produção, obras consideradas exemplares e representativas dos diferentes momentos de sua energia criadora, os bens que passariam a ser protegidos como Patrimônio Cultural Brasileiro.
Sendo assim, a inclusão do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (RJ), Conjunto de edificações projetadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer para o Parque do Ibirapuera (SP) e da Passarela do Samba (RJ), no processo de tombamento segue as recomendações do próprio Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que em 2007 aprovou o tombamento de 24 obras do arquiteto.
Oscar Niemeyer – Com 104 anos bem vividos e com uma obra surpreendentemente grande e duradoura, Oscar Niemeyer foi estudado, analisado, criticado e historiado por um significativo número de autores. Niemeyer é um artista pleno do século XX, e que chegou ao XXI revigorado, produzindo arquitetura e promovendo saudáveis polêmicas. Oscar Niemeyer nasceu no Rio de Janeiro em 1907. Em 1925, quando os arquitetos Gregori Warchavchik e Rino Levi publicaram seus respectivos artigos fundadores de uma discussão acerca da arquitetura moderna no Brasil, ele estava com dezoito anos e ainda cursava o ensino secundário. Em 1929, quando Le Corbusier proferiu suas primeiras palestras no Rio de Janeiro, Niemeyer estava ingressando na Escola Nacional de Belas Artes. Em 1936, quando Lucio Costa divulgou Razões da Nova Arquitetura, Niemeyer era apenas um arquiteto recém-formado e dava início a sua história profissional.
Três obras foram fundamentais para que Niemeyer, rapidamente, alçasse a uma condição de destaque no meio arquitetônico: A sede do Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP), no Rio de Janeiro (1936-43); o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York (1939); e o conjunto da Pampulha, em Minas Gerais (1940-44).
Obras que foram acompanhadas de competentes estratégias de divulgação e importantes discussões que exigiram explicitações das opções projetuais. Niemeyer esteve sempre à frente dos debates. Lucio Costa, que foi seu mestre e tutor, anos depois afirmou que Niemeyer “soube estar presente na ocasião oportuna e desempenhar integralmente o papel que as circunstâncias propícias lhe reservavam”.
Oscar Niemeyer fez parte da equipe que projetou o MESP, revelando-se como um criativo e competente profissional, cuja contribuição foi fundamental para o desenvolvimento e o sucesso da obra. Segundo as manchetes dos jornais da época, tratava-se da execução do Edifício mais avançado da América ou uma obra notável da arte brasileira moderna. Já o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York Pavilhão foi promovido pela imprensa internacional, visitado por cerca de oito milhões de curiosos e divulgado por um belo álbum que garantiu a sua memória e permanência (a edificação, infelizmente, foi demolida após o encerramento da exposição).
Por sua vez, Pampulha, em Belo Horizonte (MG) igualmente resultou de um empreendimento promovido pelo poder público e, no caso particular da Igreja de São Francisco de Assis, foi acompanhada de forte polêmica, particularmente centrada na surpreendente exuberância das formas adotadas. Mas foi com a construção de Brasília, em 1960, que Niemeyer teve seu nome definitivamente consagrado na história da arquitetura.
O Conselho que avalia os processos de tombamento e registro é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 23 conselheiros, que representam o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.