Artes visuais são destaque no 12º Festival Artes Vertentes, em Tiradentes
O Festival Artes Vertentes chega à sua 12ª edição, de hoje a 26 de novembro, na histórica Tiradentes, em Minas Gerais, reforçando o compromisso com a promoção das artes de forma integrada. A programação inclui concertos, exposições, exibições, bate-papos, residências artísticas e oficinas, recebendo uma série de convidados nacionais e internacionais para dialogar sobre o fazer artístico e suas infinitas possibilidades. Toda a programação é oferecida de forma gratuita ou com ingressos a preços populares.
No campo das Artes Visuais, o público terá acesso a uma programação cuidadosamente elaborada levando-se em consideração a temática desta edição “Paisagens Imaginárias”. Seguindo a proposta do festival, a ideia é apresentar um cronograma de atividades que exploram e exemplificam a integração entre as mais diversas manifestações artísticas, possibilitando um roteiro diferenciado que destaca o diálogo entre as artes. Logo no primeiro dia de programação, serão abertas ao público três exposições, todas com visitação gratuita ao longo de todo o período do festival.
A partir dos olhares de Pierre Verger e Evandro Teixeira, a exposição “Canudos”, poderá ser conferida no Sobrado Aimorés, com curadoria de Luiz Gustavo Carvalho, e trata de um território que se tornou sinônimo de luta, de resistência, de mudança e de esperança. As paisagens que escondem debaixo da terra e sob as águas retratam a história de um país, vivida e contada por gente simples, cuja força parece vir da agrura da terra, da beleza rude do sertão. Dos vestígios da primeira Canudos, destruída pela guerra, até a segunda cidade, reconstruída pelos poucos conselheiristas que sobreviveram a um dos mais violentos massacres da história do Brasil e posteriormente submersa pelo Açude de Cocorobó, as fotografias realizadas pelo fotógrafo francês, em 1947, e pelo baiano, em 1997, falam também sobre a solidão e abandono de um país constantemente explorado e excluído, que precisa recorrer às paisagens imaginárias para sobreviver diante de tanta violência e injustiça.
O Beco do Zé Moura receberá a intervenção “Mergulho das Benedictas”. Com curadoria de Natália Chagas, a mostra reunirá trabalhos inéditos assinados por sete mulheres que vivem em Tiradentes, e que participaram do curso de fotografia oferecido pela Ação Cultural Artes Vertentes durante o ano de 2023. São elas: Adriana Amorim, Antônia Rosa, Caroline Assis, Clarissa Arani, Maria Silvia, Regina Ferreira e Walquíria Assis. A proposta é apresentar uma ideia não linear de exposição, tampouco fechada. A ocupação se aproxima mais de fragmentos poéticos espalhados no desenrolar dos dias multifacetados, incitando-nos a inventar outras poesias a partir dos estímulos recebidos ao longo da travessia, agregando nossas percepções e assim, dando sentido as coisas que podem ser sem sentido, trazendo luz a espaços “invisíveis”, e dando importância às coisas “desimportantes”. São imagens ora se interceptam, ora se afastam. Apesar de atravessar temáticas diferentes, a linha que costura esses trabalhos é uma só: O que pode a fotografia? Quais mudanças elas reproduzem em nós?
Também hoje, às 18 horas, no Sobrado Quatro Cantos (Rua Direita, 5), haverá a abertura da exposição “Da casa à paisagem”, reunindo trabalhos assinados pelos artistas: Andrea Lanna, Daisy Turrer, Elisa Campos, Fernanda Goulart, Liliza Mendes, Roberto Bethônico e Rodrigo Borges. A mostra, realizada em parceria com o Campus Cultural UFMG Tiradentes, apresenta peças de caráter experimental, que questionam a espacialidade doméstica. A exposição constitui-se como ambiente de interações processuais, a partir de trabalhos que grassam entre si, mas também com a cidade, suas pessoas, arquiteturas, jardins, quintais, montanhas e as diversas subjetividades que os habitam.
Simultaneamente, também às 18 horas, no Centro Cultural Yves Alves (Rua Direita, 168), será inaugurada a exposição “Anjos Caídos”, que reúne obras da fotógrafa, jornalista e escritora francesa Emilienne Malfatto. A mostra reúne imagens e conteúdos que lançam um olhar poético, denunciativo e delicado para situações que envolvem a perda, o luto, o trauma, a ausência e a memória dos Yazidis, minoria religiosa curda, estabelecida numa região localizada na fronteira entre o Iraque e a Síria. Praticando um dos monoteísmos mais antigos do mundo, os Yazidis têm sido alvo de inúmeros genocídios ao longo da história. Através da superposição de fotografias e retratos antigos, acompanhados dos relatos das pessoas que regressaram ao território, Emilienne Malfatto retrata uma terra de fantasmas, onde as pessoas (sobre)vivem assombradas pelos ausentes.
Outra exposição que integra a programação do Festival Artes Vertentes é a série “Terreno Antropozoico”, criada pelo fotógrafo mineiro Rodrigo Albert entre os anos de 2011 e 2017 no Golfo do México, um lugar constantemente afetado por tormentas e furacões, marcas das pegadas irreversíveis deixadas pelo homem no planeta. As intervenções feitas pelo artista com fogo, pneus, lixo, redes, canos e com o próprio ser-humano sugerem paisagens de uma nova era geológica chamada Antropoceno, que estabelece um vínculo intrínseco e indivisível entre o ser humano e a natureza, como sugere o cientista Paul J. Crutzen: “O Antropoceno representa um novo período na história do planeta, no qual o ser humano se tornou o motor da degradação ambiental e o vetor de ações catalisadoras de uma provável catástrofe ecológica.” Quais paisagens vislumbrar a partir de um ponto em que a natureza foi a tal ponto alterada que já não mais existe no sentido antigo? A mostra poderá ser conferida ao longo de todo o festival no Chafariz de São José.
Amanhã, às 20 horas, no Museu Casa Padre Toledo (Rua Padre Toledo, 190), as artes visuais serão colocadas em diálogo com a literatura, a partir da leitura performática que inclui a projeção de vídeo. A performance “A água é uma máquina do tempo”, derivada do livro homônimo da artista e escritora Aline Motta (Niterói/RJ) reúne diversas linguagens artísticas e reconfigura memórias ao se valer de uma percepção não-linear do tempo, provocando reflexões acerca das influências dele em nossas vidas. Construindo um mosaico fluido de épocas a partir de documentos históricos, Aline Motta cruza diversos planos entre si, num percurso que passa pelo luto por sua mãe e revisita o Rio de Janeiro no final do século XIX, por meio de fragmentos que reconstroem a vida de antepassadas da autora.
A partir de amanhã, o público também poderá conferir a exposição “Walter Firmo conjugado”, reunindo uma seleção de trabalhos assinados por um dos fotógrafos mais reconhecidos por seu olhar humanista. A obra reflete suas próprias origens, como parte de uma “confraria suburbana, operária, onde a negritude viceja.” Para a mostra, o fotógrafo escolheu fotos em preto-e-branco, como forma de dialogar com seu próprio trabalho, sempre tão associado a cores vivas. As imagens escolhidas retratam uma paisagem humana ao mesmo tempo real e imaginária. Walter Firmo, nascido Guimarães Silva, demonstra nessa seleção a conjugação de seu sobrenome artístico. A exposição é realizada pelo Instituto Rouanet em parceria com o Festival Artes Vertentes.
Já no dia 23, quinta-feira, às 19 horas, também no Museu Casa Padre Toledo, o público poderá conferir “Esse Isso Aqui”, um projeto multidisciplinar e colaborativo criado em 2023 a partir do encontro do coletivo de arte-sonora O Grivo, a artista multimídia Niura Bellavinha, e o músico Francisco César. O trabalho consiste em uma série de improvisações que ocorrem na intersecção da música experimental e contemporânea, o free-jazz e as pinturas expandidas, realizadas ao vivo. Os quatro artistas instauram no espaço do concerto-performance um estado de presença, escuta e concentração ritualística, oferecendo ao público um diálogo que trafega entre música, espacialidade e uma visualidade radicalmente musical.
O 12º Festival Artes Vertentes é patrocinado por Cemig, Itaú, Copasa e Minasmáquinas, com mais informações em www.artesvertentes.com