Travar a roda
Nelson Tucci
Em meio aos 60.000 homicídios registrados por ano, no Brasil, 2017 vai guardar mais um fato particularmente doloroso. Uma criança de 14 anos (e podem tratá-la como adolescente ou qualquer outra denominação, mas o fato é que 14 anos é idade de criança, que usa pediatra e ainda não tem o corpo 100% pronto), sentindo-se moralmente agredida, resolveu matar seus coleguinhas a tiros. E com uma arma privativa de polícia mandou para o céu (como se diz, sempre, com as crianças que têm a vida abreviada) dois amiguinhos, feriu mais quatro a bala e… produziu um bullying perpétuo em várias outras crianças, adolescentes e adultos, que deverão carregar as cenas na mente pelo resto de suas vidas. O País está de luto. A Humanidade deu mais um passo atrás; dois, talvez. Por nada, ou muito pouco, esta aparente “ilha de tranquilidade” tem números superiores ao conflito Israel x Palestina e se iguala a Síria (em estado de guerra há anos). A razão vai dando lugar à barbárie, dia a dia, enquanto assistimos cenas mais que lamentáveis no Congresso, no Judiciário, no Executivo… Pessoas são fuziladas à luz do dia, à sombra da noite e na calada da madrugada. O País está doente. A sociedade surta em vários níveis, extrapolando o bom senso e as regras da civilidade. Pior é a indiferença, andando de mãos dadas com a violência e a corrupção. O fato é que o Brasil fica espiritualmente mais pobre. É preciso reagirmos. As orações ajudam, mas são pouco. E colocar um revólver, ou fuzil, na mão de cada um não é solução. É preciso parar a roda e descermos, todos, nem que seja só por um instante.