Toda ouvidos
Luiz Carlos Ferraz
Comparar o Brasil com outros países, e mesmo o brasileiro com estrangeiros, nunca foi vantajoso para a nossa autoestima, seja em qual área for, pois quase sempre o nosso país e o nosso cidadão se posicionam no final do ranking, muitas vezes segurando a lanterna. E se, cerebrinamente, em determinada lista não aparece tão mal é porque os que se encontram em posição inferior estão, infelizmente, mergulhados na completa desgraça. Não é possível comparar, por exemplo, a qualidade da Justiça ou dos juízes brasileiros com o padrão praticado na Suécia, ou na Corte de Haia, Holanda. Tampouco seria razoável estabelecer paralelo entre a ética da política – e dos políticos! – da Dinamarca com o modus operandi criminoso que contamina os parlamentos da Nação. Enfim, não é uma boa ideia a comparação; ainda que afastado qualquer resquício da síndrome de vira-latas (parafraseando Nelson Rodrigues), andamos muito mal. Mas nem tudo está perdido! De uma forma aleatória poderão surgir iniciativas com criatividade e surpreender o senso comum. É o caso da Ouvidoria Municipal de Santos. Entre tantas preocupações que assolam o cotidiano numa cidade do terceiro mundo, parece não haver situação mais desesperadora quando o munícipe, na condição de pagador de impostos, é tratado como invisível pelo Poder Público – que, além de não lhe prestar os serviços devidos, sequer ouve suas reclamações, gerando uma total desesperança para a solução do problema, seja na área urbana, saúde, segurança, meio ambiente, educação; enfim, toda e qualquer área, pois, como se sabe, o cidadão mora e se relaciona diretamente com a Municipalidade e não com a ficção do Estado ou da União. E, para a sorte dos santistas, a partir de 2 de março, os munícipes contarão nos bairros com 43 postos integrados à Ouvidoria. Em Santos, o cidadão será ouvido.