Hoje tem laranjada?
Luiz Carlos Ferraz
Armado a cada dois anos, o circo da democracia volta em 2020, animado já nestes primeiros dias do ano com a sanção do orçamento federal que inclui a espantosa dotação de R$ 2 bilhões para o fundo eleitoral – o butim pilhado do Tesouro Nacional e que será repartido entre os partidos para vitaminar as campanhas dos candidatos, laranjas ou não, na eleição municipal de 2 de outubro. Isto não tem nada a ver com o famigerado fundo partidário, que paga a gastança dos partidos! São dois modelos de fundos, aliás, que geram indignação diante da escassez de recursos para as necessidades básicas do brasileiro, que continua morrendo na fila por atendimento médico; que desde cedo é entregue ao poder paralelo, já que lhe faltam vagas em creches, escolas e trabalho; que tem fome e é vítima de doenças emergentes e reemergentes, pela falta de água potável nas torneiras e coleta de esgoto nas ruas… Absolutamente, nada de novo! Apenas constata-se que este governo, que foi eleito na esteira de promover mudanças no Brasil, mais uma vez se curva à elite que prolifera no Congresso Nacional – que corrompe e desafia quem quer que ouse suprimir seus privilégios. Que não se deduza, contudo, que a escolha de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores nos 5.568 municípios do país não terá qualquer importância. Pelo contrário, o eleitor consciente deve se ocupar nos próximos meses a acompanhar o noticiário, para conhecer melhor os candidatos e manter a convicção de que a sua escolha representará mais um passo na depuração ética e moral da classe política. O processo é lento, gradual, e é assim que funciona o circo da democracia. Que há de ser diferente daquele circo que diverte o povo, pois neste não se busca a marmelada e o palhaço, coitado, nem é ladrão de mulher…