Como Francisco
Luiz Carlos Ferraz
Outra vez o exemplo vem de Francisco, mais precisamente de sua fantástica peregrinação, uma jornada de 2.500 quilômetros que ele realizou a partir de sua cidade natal, Assis, na Itália, para demonstrar sua fé e devoção ao Apóstolo de Jesus, talvez o preferido, aquele denominado junto com o irmão João de “Filho do Trono”, São Tiago, cujas relíquias repousam na Catedral de Santiago de Compostela, na Espanha. Francisco, também chamado de “Alter Christus”, o Outro Cristo, é o assunto principal desta edição do Perspectiva e tema do livro “Passos do Amor”. Aqui, a referência não é tão somente à efetiva travessia do poverello, por si só extraordinária, e que mereceu uma das páginas mais sublimes entre os relatos medievais sobre seus feitos e de seus companheiros da recém-criada Ordem dos Frades Menores, e que àquela época dariam um novo ânimo ao Cristianismo por meio de sua forma de evangelizar – e que nada mais propunha do que seguir a orientação do Mestre, de oferecer uma Igreja voltada aos pobres! Neste contexto, para melhor compreensão do que se pretende colocar à reflexão, é fundamental contextualizar a parábola existente nos fatos revelados, enfim, na tradição viva que foi legada ao longo de séculos de história, e trazê-la para aplicá-la ao nosso tempo. Assim, a sugestão é que a viagem, em vez de envolver centenas ou milhares de quilômetros, seja apenas interior; e que a pobreza perseguida não seja vinculada à miséria, e sim, como a humildade, associada à virtude. Pode parecer difícil, talvez; ou fácil demais, não é. Mudar paradigmas neste momento conturbado exige uma revolução na forma de agir de cada cidadão, para inspirar outras pessoas no âmbito de sua comunidade, e de cada governante, pela responsabilidade que possui numa sociedade em crise, que insiste em pregar o “salve-se quem puder”.