Petrechos de Pesca avança na gestão de resíduos marinhos na Ilha Anchieta
Ubatuba, no litoral Norte de São Paulo, é alvo de projeto para a gestão de petrechos de pesca e resíduos marinhos no território, tendo o Parque Estadual Ilha Anchieta (PEIA) como estudo de caso. Iniciado em fevereiro de 2023 e com duração prevista de três anos, o projeto visa transformar em Ubatuba a maneira que resíduos de pesca, como redes e cabos, são tratados e reciclados, promovendo a economia circular azul e gerando benefícios tanto para o meio ambiente quanto para a comunidade local.
O Petrechos de Pesca foi criado em atendimento à Condicionante nº 12 (Fundação Florestal – Autorização para Licenciamento nº 11/2018) da Autorização para o Licenciamento Ambiental da Atividade de Produção e Escoamento de Petróleo e Gás Natural do Polo Pré-Sal da Bacia de Santos – Etapa 3. Sua missão é avaliar, monitorar, remover e caracterizar os petrechos perdidos no mar na área do Parque Estadual Ilha Anchieta (PEIA), em Ubatuba. O Instituto de Pesca (IP-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, há décadas desenvolve projetos na região, e, atualmente, está realizando mais essa iniciativa, com o apoio da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag) e da Petrobras.
A primeira ação do Petrechos de Pesca foi a instalação de um Ecoponto do Pescador em Ubatuba, que serve como um ponto de coleta para materiais descartados pelos pescadores, como redes, cabos e boias. “Além disso, a iniciativa tem se empenhado em promover a conscientização sobre o tema, por meio de eventos e campanhas educativas. A equipe distribui materiais informativos e realiza palestras para informar pescadores e moradores sobre a importância da gestão desses resíduos, assim como promove a capacitação de gestores ambientais, para utilizarem metodologias de identificação e remoção de petrechos perdidos”, conta a pesquisadora bolsista do projeto, Debora Ramalho.
Até o momento, o Ecoponto do Pescador, localizado no PEIA, já recebeu 2.334 kg de petrechos de pesca, compostos principalmente por redes (985 kg), cabos (1.159 kg) e outros materiais (190 kg). A análise dos materiais coletados revela que o polietileno e a poliamida são os componentes mais frequentes, representando 54% e 43% dos resíduos, respectivamente.
Milhares de toneladas de lixo acabam em meios aquáticos – como rios, mares, lagos e oceanos – todos os dias. Sua maioria é composta por material plástico, que afeta diretamente a fauna marinha e aqueles que dependem desses ecossistemas para o seu sustento.
Os petrechos de pesca, como redes, cabos boias, dentre outros, em grande parte feitos de plástico, quando perdidos no mar, demoram muito tempo para se decompor, causando danos tanto aos pescadores quanto ao meio ambiente. No entanto, ainda faltam estudos para quantificar esse impacto. A curto prazo, trazem riscos para a vida marinha, enquanto não recebem uma destinação adequada. A longo prazo, esses materiais começam a se fragmentar em pequenas partículas: os microplásticos.
“Estudar alternativas de reutilização e reciclagem de petrechos de pesca, assim como compreender os desafios na gestão local desses materiais, é essencial para o desenvolvimento de soluções que evitem prejuízos ambientais e sociais, como perda financeira”, afirma Debora.
A coleta de materiais é apenas uma parte do trabalho. Segundo a pesquisadora, o projeto enfrenta desafios na destinação final desses resíduos. Para redes de pesca, por exemplo, existem alternativas de reciclagem, sendo material relativamente mais fácil de lidar em comparação com cabos, que possuem composições mais complexas e exigem tecnologias específicas para o reaproveitamento. Atualmente, o projeto está em negociação com empresas especializadas para encontrar soluções eficazes para a reciclagem desses materiais.
“Enquanto isso, o foco está na destinação de materiais para maricultores e pescadores que manifestam interesse. Já ocorreram doações para artesãos e decoração de estabelecimentos. Apesar da reutilização ser um caminho, incentivar o uso alternativo desses materiais não substitui a necessidade de uma solução de reciclagem permanente”, salienta Debora.
A economia circular azul é conceito central para o projeto, referindo-se à reintrodução de resíduos na economia de maneira sustentável, com foco no reaproveitamento de materiais oriundos do ambiente marinho. Essa abordagem não apenas reduz a quantidade de resíduos no oceano, mas também oferece oportunidades para a criação de novos produtos e benefícios econômicos para a comunidade local.
A meta do projeto é criar um sistema de gestão de resíduos que possa ser mantido e expandido pela comunidade local. Apesar de sua durabilidade ser de três anos, a equipe está comprometida em apresentar alternativas viáveis e efetivas para cumprir a meta. Além disso, o projeto colabora com outras organizações e iniciativas semelhantes para unir esforços e potencializar resultados. Há a expectativa de que outras instituições locais se envolvam mais ativamente no futuro, contribuindo para o fortalecimento das ações e para a implementação de soluções a longo prazo.