Edição 363 Abril 2025
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Quinta, 24 De Abril De 2025
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Publicado em 11/04/2025 - 7:34 am em | 0 comentários

Filipe Berndt-MAB/Divulgação

MASP expõe arpilleras do Movimento dos Atingidos por Barragens

Tratores famintos, Coletivo Nacional de Mulheres do MAB

MASP expõe arpilleras do Movimento dos Atingidos por Barragens

O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), na capital paulista, apresenta até 3 de agosto a exposição Mulheres Atingidas por Barragens: bordando direitos, que reúne 34 arpilleras produzidas pelo Coletivo Nacional de Mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). As peças foram confeccionadas coletivamente por mulheres de todo o país, em rodas de bordado organizadas pelo coletivo, como expressão de suas vivências e lutas diante dos impactos sociais e ambientais causados pela construção, operação e pelo rompimento de barragens.

Durante a exposição, o movimento promoverá duas oficinas de arpilleras abertas ao público, com Caroline Mota Laino e Daiane Carlos Höhn, ativistas do MAB. A primeira será amanhã, das 10h30 às 13h30, e a segunda está programada para domingo, 27, também das 10h30 às 13h30.

As arpilleras, peças têxteis que se tornaram símbolo da memória e da luta por direitos humanos, são composições de retalhos de tecido bordado sobre juta. A técnica surgiu no Chile nos anos 1960 e, durante a ditadura de Augusto Pinochet, tornou-se uma expressão cultural e política de protagonismo feminino. Criadas principalmente por mulheres – muitas delas mães, esposas e familiares de presos políticos e desaparecidos –, essas obras retratam cenas do cotidiano, da repressão e da luta por direitos.

O Coletivo Nacional de Mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) passou a utilizar a técnica em 2013 para abordar temas como a violência doméstica, a ruptura de vínculos entre a terra e a comunidade, a violência contra crianças e adolescentes, a falta de acesso à água potável e à energia elétrica, e os impactos das barragens e da poluição de rios na pesca e na subsistência das famílias, entre outras violações aos direitos humanos e ambientais.

Com curadoria de Isabella Rjeille e Glaucea Helena de Britto a exposição reúne arpilleras de diferentes regiões do Brasil, produzidas entre 2014 e 2024. Organizadas cronologicamente, essas peças contemplam uma grande diversidade de técnicas e temas. Cada arpillera é contextualizada por uma carta escrita pelas autoras, guardada em um bolso no verso de cada peça, evidenciando o caráter coletivo e de organização popular do processo de realização de cada peça. Na mostra, o público terá acesso à seleção de 6 cartas manuscritas.

“Para muitas pessoas, a arpillera pode parecer apenas uma obra de arte para pendurar na parede. Para nós, o significado político desse testemunho têxtil está na organização das mulheres, na luta pelos seus direitos e na proposição política – dos sonhos, das utopias, daquilo que almejamos. É denúncia, mas também é um projeto de esperança”, diz Daiane.

O MAB é um núcleo dentro do movimento que articula a luta das mulheres atingidas em todo o país, fortalecendo sua participação política e promovendo ações de denúncia e resistência. Desde sua criação, tem ampliado a presença feminina nos espaços de decisão e consolidado estratégias para garantir direitos e enfrentar as violações causadas pela construção, operação e pelo rompimento de barragens. No último período, as atingidas também têm promovido debates e fortalecido a organização com mulheres impactadas por desastres climáticos, que, de forma semelhante, geram desestruturação comunitária e familiar, com impactos específicos na vida das mulheres e violações de direitos das famílias.

Desde 2013, as mulheres do MAB organizam oficinas nas quais, por meio do bordado, constroem narrativas visuais que denunciam injustiças socioambientais, registram memórias e reforçam redes de apoio. As arpilleras tornaram-se um símbolo da resistência das mulheres atingidas.

Mulheres Atingidas por Barragens: bordando direitos integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da ecologia. A programação do ano também inclui mostras de Abel Rodríguez, Clarissa Tossin, Claude Monet, Emilija Škarnulytė, Frans Krajcberg, Hulda Guzmán, Inuk Silis Høegh, Janaina Wagner, Maya Watanabe, Minerva Cuevas, Tania Ximena, Vídeo nas Aldeias e a grande coletiva Histórias da ecologia.

Todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em Libras ou descritivas, além de textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em linguagem fácil – com narração, legendagem e interpretação em Libras que descrevem e comentam os espaços e as obras. Os conteúdos, disponíveis no site e no canal do YouTube do museu, podem ser utilizados por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não alfabetizadas e interessados em geral.

Na ocasião da mostra, será publicado um catálogo bilíngue, em inglês e português, composto por imagens e ensaios comissionados de autores fundamentais para o estudo da obra e luta do MAB. A publicação tem organização de Isabella Rjeille e Glaucea Helena de Britto, e textos de Roberta Bacic, Monise Vieira Busquets e Carolina Caycedo, além de entrevista com Daiane Höhn, Esther Vital e Louise Löbler. O catálogo conta com a reprodução de 47 arpilleras produzidas pelo coletivo, além de textos que contextualizam cada peça.

Mulheres Atingidas por Barragens: bordando direitos é realizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e Proac ICMS.

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