Instalação questiona desenvolvimento urbano na área central de São Paulo
O Solar da Marquesa de Santos é um edifício muito conhecido pelos paulistas. Localizado no centro histórico de São Paulo, serviu de residência para uma das mais polêmicas personalidades do Império brasileiro – Domitila de Castro, amante de Dom Pedro I –, está de pé desde o século XVIII e hoje é sede do Museu da Cidade de São Paulo. Porém, poucos sabem que antes mesmo da construção desse famoso prédio havia um braço afluente do rio Tamanduateí que servia como pequeno porto no período colonial. O artista Maurício Adinolfi, recupera a água da nascente que desagua no rio e a redireciona para sua instalação “Caronte 7 Voltas”, montada no Beco do Pinto, localizado ao lado do Solar, que será exposta ao público a partir de hoje.
“Caronte 7 Voltas” é uma instalação constituída pela proa de um barco de madeira antigo danificada pelo uso e suspensa por uma talha, instalada em uma estrutura de madeira a uma altura aproximada de sete metros. Um sistema com motor bomba d’água e encanamento vermelho que sobe pela escadaria, é fixado no topo da parte interna da embarcação, utilizando a água desviada da nascente (mantendo o fluxo fluvial original) para escorrer pela estrutura e cair no chão do Beco do Pinto, retornando ao rio pela canalização interna.
O trabalho, vencedor do edital Premiação por Histórico de Realizações em Artes Visuais do ProAC Expresso LAB nº 51:2020 da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do estado de São Paulo, faz parte de uma longa pesquisa do artista, que consiste em investigar as estruturas náuticas históricas, o deslocamento das embarcações na paisagem, sua ressignificação simbólica e as questões temporais ligadas à memória e constituição urbanística. Caronte, que serve de título à instalação, é também o nome dado ao mitológico barqueiro que carrega as almas daqueles que acabaram de morrer pelo rio Estige em direção ao inferno de Hades.
A região onde está instalada a obra “Caronte 7 voltas”, faz parte de uma geografia historicamente alterada de acordo com necessidades e justificativas do desenvolvimento da cidade, sofrendo transformações constantes e nem sempre organizadas, privilegiando a ocupação automotiva, pavimentação e canalização dos rios, trazendo vários problemas ambientais e sociais. Antes dessas políticas urbanísticas, o rio Tamanduateí serpenteava a região dando sete voltas numa área entre o Mosteiro São Bento e o Beco do Pinto, irrigando e alimentando a vegetação. Durante os períodos intermináveis de obras, acabou por sofrer seguidos aterros e retificações de curso, o que resultou na situação atual de um rio quase morto.
O Beco do Pinto é uma das 13 unidades do Museu Cidade de São Paulo, que tem como sede o Solar da Marquesa de Santos e inclui entre seus espaços de exibição a Casa da Imagem e a Casa Modernista. O museu trabalha com várias temáticas de áreas como arquitetura, história, antropologia e arqueologia com exposições que sempre se conectam de alguma forma com a cidade, seu território e sociedade.
Vinculado ao Departamento dos Museus Municipais da Secretaria Municipal da Cultura, o Museu da Cidade de São Paulo promove a reflexão contínua das dinâmicas de construção da cidade física e simbólica, retratando a sua diversidade cultural e registrando a memória de sua população. Sua estrutura física é formada por uma rede de casas históricas, construídas entre os séculos 17 e 20 e distribuídas nas várias regiões que representam remanescentes da ocupação da área rural e urbana de São Paulo. São elas: Beco do Pinto; Capela do Morumbi; Casa da Imagem; Casa do Butantã; Casa do Caxingui; Casa do Grito; Casa do Sítio da Ressaca; Casa do Tatuapé; Casa Modernista; Chácara Lane; Cripta Imperial; Sítio Morrinhos e Solar da Marquesa de Santos.