Inclusão digital de afro-brasileiros pode gerar R$ 360 MI em renda anual
A inclusão digital de pessoas negras pode ser a chave para um impulso econômico significativo no Brasil revela o estudo Characterizing the Afro-Brazilian Digital Inclusion Gap and Assessing Investment Opportunities, encomendado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e conduzido pela DIMA Consultoria. A pesquisa indica que conectar os 29 milhões de afro-brasileiros atualmente sem acesso à internet poderia resultar em um aumento de R$ 360 milhões na renda anual dessa população.
A desigualdade social, com ênfase na desigualdade racial, desempenha um papel fundamental na divisão digital no Brasil. Afro-brasileiros representam 56,1% da população e têm uma taxa de participação de 53,7% na força de trabalho, destacando seu papel significativo na economia nacional. Essa falta de acesso limita não apenas as oportunidades de emprego e desenvolvimento profissional, mas também restringe o potencial econômico individual e coletivo dessa população.
O impacto dessa exclusão digital é profundo e abrangente, afetando não apenas o acesso a serviços essenciais e oportunidades de negócios, mas também a capacidade de participar plenamente da economia digital em crescimento. A inclusão digital desses afro-brasileiros poderia transformar radicalmente seu acesso a oportunidades educacionais e profissionais, além de permitir uma participação mais significativa no mercado de e-commerce. Essa transformação não só impulsionaria a renda e o crescimento econômico dentro dessa comunidade, mas também contribuiria para uma redução geral das desigualdades sociais e econômicas no Brasil.
O estudo revela que, ao abordar essas disparidades digitais e promover a inclusão, o Brasil pode desbloquear um potencial econômico significativo. A inclusão digital dos afro-brasileiros pode impulsionar a renda anual dessa população em R$ 360 milhões e expandir o mercado de e-commerce em R$ 9,76 bilhões. Esse crescimento econômico não só beneficiaria os consumidores, mas também abriria novas oportunidades para empresas afro-brasileiras e contribuiria para um desenvolvimento econômico mais equitativo em todo o país.
Outro ponto central do estudo é o potencial impacto da inclusão digital no mercado de e-commerce. Se esse grupo passasse a participar do comércio eletrônico, o mercado poderia se expandir em R$ 9,76 bilhões. Esse valor reflete o gasto médio anual de R$ 2.197,21 por pessoa, com base nos dados de 2021 sobre consumo on-line. Segundo o relatório, a inclusão desses consumidores não só aumentaria o faturamento de empresas de e-commerce, mas também impulsionaria o crescimento econômico de empresas afro-brasileiras que ainda não estão no mercado digital.
Para reverter o cenário atual e promover uma inclusão digital eficaz, o estudo oferece recomendações estratégicas voltadas a investidores que desejam tanto contribuir para a equidade digital quanto explorar setores de alto potencial. Luana Ozemela, fundadora e conselheira da DIMA Consultoria e vice-presidente de Impacto e Sustentabilidade do iFood, destaca que “investidores devem canalizar recursos para setores com grande potencial de digitalização que impactem diretamente a vida da população afro-brasileira”. Um exemplo seria o setor de seguros de saúde, que pode se beneficiar significativamente da digitalização, incluindo a telemedicina, e impactar diretamente milhões de afro-brasileiros que ainda não têm acesso a esses serviços digitais.
A pesquisa enfatiza a importância da alfabetização digital, propondo investimentos em treinamento técnico e certificações para afro-brasileiros. Esses investimentos são fundamentais para prepará-los para o mercado digital em expansão e melhorar suas habilidades tecnológicas. Segundo o estudo, o apoio à adoção de tecnologias digitais por empresas afro-brasileiras e a oferta de suporte especializado para funcionários de instituições financeiras também são medidas cruciais para garantir que esses profissionais possam orientar e apoiar eficazmente os usuários finais.
“O apoio à adoção de tecnologias digitais por empresas afro-brasileiras é crucial porque essas empresas são essenciais para o fortalecimento econômico e social de suas comunidades. Quando equipadas com as ferramentas e o conhecimento necessário, elas podem não apenas prosperar no ambiente digital, mas também servir como catalisadoras para a inclusão digital de outras empresas e indivíduos”, explica Ozemela. Além disso, oferecer suporte especializado para funcionários de instituições financeiras é vital para garantir que eles tenham a capacidade de orientar e apoiar usuários finais, especialmente em uma população que historicamente têm menos acesso a esses recursos.
A pesquisa recomenda a implementação de soluções antifraude, essenciais para proteger os consumidores em um ambiente digital cada vez mais complexo. Com o aumento das tentativas de fraude no Brasil, investir em plataformas de e-commerce com medidas de segurança robustas pode mitigar riscos e proteger os consumidores, especialmente em um cenário onde a inclusão digital está crescendo rapidamente.
Ozemela ressalta que foi esse potencial transformador da inclusão digital que impulsionou o lançamento de uma nova turma do programa iFood Acredita na Favela, com foco inicial na inclusão e no letramento digital: “Acreditamos que é por este caminho que se deve começar qualquer esforço de empreendedorismo, pois a inclusão digital é o alicerce que possibilita o acesso a oportunidades e o crescimento sustentável nas comunidades vulneráveis”.
Ela destaca que a partir desse alicerce, os alunos podem não apenas se inserir no mercado digital, mas também construir negócios mais resilientes e inovadores, contribuindo para a redução das desigualdades e o fortalecimento econômico dessas comunidades. Essas ações não apenas ajudarão a reduzir as disparidades digitais e sociais, mas também promoverão um ambiente mais seguro e equitativo para a população afro-brasileira, contribuindo para um crescimento econômico mais inclusivo e sustentável no país.