Edição 358 Novembro 2024
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Publicado em 2/05/2023 - 10:59 am em | 0 comentários

Divulgação

Genética pode ser o motivo de duas antas albinas no Legado das Águas

Animais possuem algum grau de parentesco

Genética pode ser o motivo de duas antas albinas no Legado das Águas

O alto grau de conservação das florestas do Legado das Águas, no Vale do Ribeira, em São Paulo, se mostra um refúgio para espécies da fauna e flora de Mata Atlântica. Este é o caso das duas antas machos albinos descobertos na reserva. A explicação para o fenômeno extremamente raro de albinismo acontecer duas vezes e no mesmo lugar pode estar ligada a um possível grau de parentesco entre os dois animais.

Em 2018, quatro anos após a descoberta da primeira anta albina, um segundo indivíduo, também macho, foi registrado nas áreas do Legado das Águas. Dentre as possibilidades mais defendidas pelos pesquisadores é a de que os dois animais possuem algum grau de parentesco, podendo ser irmãos, ou pai e filho.

Mariana Landis, pesquisadora do Instituto Manacá, parceira do Legado das Águas e responsável pela pesquisa com as antas na reserva, diz que o albinismo por si só já é uma condição rara, mas acontecer duas vezes no mesmo local, é daquelas probabilidades de uma em um milhão. Isso porque o albinismo é hereditário e recessivo. Significa que o macho e a fêmea precisam ter o gene que causa a falta de pigmentação, e o detalhe é que não necessariamente os “pais” são albinos, pois o gene pode não se desenvolver no indivíduo que o carrega.

A presença do albinismo expressado nas antas do Legado, pode ter ocorrido por puro acaso no ambiente natural: fêmea e macho que possuem o gene, precisam se encontrar, para então dar origem ao filhote albino. Mariana pondera que não é comum ter animais na natureza que possuam esse gene. “Mesmo sem números exatos, é possível dizer que a incidência é baixa, visto que animais albinos são raros. Tão raro quanto são os dois indivíduos que possuem o gene se encontrarem em uma floresta, principalmente nas que possuem grandes áreas, como o Legado das Águas, cujo território é correspondente ao tamanho da cidade de Curitiba”, diz.

Esses são os principais motivos que sustentam a hipótese de que o Gasparzinho e o Canjica, como foram batizados os machos albinos, possuem grau de parentesco. “Por meio dos registros das armadilhas fotográficas, observamos que o Gasparzinho, primeiro macho descoberto, ocupa com frequência as mesmas áreas. O Canjica tem aparições menos frequentes, mas as áreas de registros se sobrepõem as do Gasparzinho. Portanto, pela sobreposição da área de vida desses dois indivíduos, acreditamos que eles sejam irmãos ou pai e filho”, explica Mariana.

Segundo a pesquisadora, o próximo passo que comprovará a hipótese é um exame de DNA que será feito por meio de amostras de pelo coletadas em campo: “Instalamos uma espécie de coletora de pelos, feito com arame farpado e instalado nos pontos em que eles mais frequentam. O pelo gruda sem machucar o animal, pois a pele é grossa e a altura é ajustada ao tamanho da espécie. Até o momento já conseguimos amostras do Gasparzinho. Assim que tivermos a amostra dos dois, faremos os exames para comprovação da hipótese”.

A fama no Gasparzinho e do Canjica já é grande. No Vale do Ribeira a dupla é um sucesso na comunidade, se tornaram um símbolo de conscientização da importância da espécie. Para David Canassa, diretor da Reservas Votorantim, a descoberta das duas antas albinas foi um marco: “As informações e imagens, resultado do trabalho dos nossos parceiros Luciano Candisani (fotógrafo responsável pelas imagens em alta resolução das antas) e Instituto Manacá, foram fortes ferramentas para nossa atuação em Educação Ambiental nas comunidades de Juquiá, Miracatu e Tapiraí, onde o Legado das Águas está inserido. Em Tapiraí, cujo nome da cidade tem relação com o nome científico das antas, Tapirus terrestres, temos resultados significativos na conscientização e reconhecimento da importância desse animal, expressados no artesanato e na frequente atenção que as escolas públicas dão ao tema. Esses são resultados que nos deixam orgulhosos do legado que estamos deixando”.

Outro fato relevante é que os dois machos têm o tipo “albinismo completo”, que se caracteriza na pelagem, pela ausência total de cor; e nos olhos, que nos animais se revela pela cor avermelhada. Se por um lado os humanos se encantam pelos albinos, no reino animal, a característica é um alvo. Pela pelagem nada camuflada, esses animais são presas muito mais suscetíveis. Por sorte, esse não é o caso do Gasparzinho e do Canjica.

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