Empreendimentos NetZero e a importância para o futuro do mercado
Celina Vaz Guimarães (*)
A sustentabilidade na construção civil tem despontado como fator essencial para a atração de novos investidores. A busca por certificações que atestem a sustentabilidade dos empreendimentos, tanto no desenvolvimento como na operação destes projetos, é um movimento global crescente. Pode-se encontrar diversos impulsionadores por trás dessa tendência, a começar pela necessidade de minimizar os impactos ambientais das edificações nas cidades que, de acordo com pesquisa realizada pelo Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), responde por 33% das emissões de gases do efeito estufa mundialmente.
O comprometimento com as práticas NetZero já é uma realidade do mercado imobiliário no Brasil. Segundo o CEO da Green Building Council Brasil, nosso país é o quinto colocado com maior número de empreendimentos certificados ou em processo de certificação. No mundo, segundo dados divulgados pela iniciativa Oxford NetZero, um terço das maiores empresas listadas se comprometeram com metas NetZero, o que a meu ver é positivo, pois permite um aumento significativo de escala, que contribui para a viabilidade de novos projetos.
Uma das principais certificações é a Edge, que foi criada pelo International Finance Corporation (IFC) com o intuito de incentivar a sustentabilidade em empreendimentos em países emergentes. Os parâmetros da certificação EDGE fazem com que o gestor avalie com mais profundidade alguns fatores em torno da construção do empreendimento e busque metas de redução do consumo de energia e água, bem como da energia gasta nos materiais empregados na construção. A certificação Edge é obtida pelos empreendimentos que comprovadamente reduzem em pelo menos 20% o uso de água, eletricidade e na energia aplicada na fabricação dos materiais e insumos usados para o desenvolvimento do projeto.
Com todas essas exigências e adaptações, é natural que investidores se preocupem e queiram entender com mais detalhe o possível acréscimo nos custos para o desenvolvimento dos empreendimentos que adotam as práticas NetZero. No entanto, vale ressaltar que a adoção de padrões construtivos com maior eficiência ecológica e energética não deve, na prática, aumentar significativamente o custo destas construções. Adicionalmente, no longo prazo, os ganhos de eficiência energética poderão compensar eventuais custos adicionais.
Como gestores, entendemos que os empreendimentos que tenham um plano efetivo de ação para reduzir ou zerar as emissões, como a certificação Edge, por exemplo, que alie essas ações com a eficiência ambiental do ativo performado, serão aqueles que irão atrair os investidores e os melhores inquilinos. Ter certificação de sustentabilidade leva em consideração um conjunto de fatores que trazem melhorias no projeto e adequa esses produtos de forma mais eficiente para o consumidor final, gerando ganhos para o investidor e para toda a cadeia, que terá um ativo melhor desenvolvido e com as características certas para as regiões. Atendendo assim uma preocupação crescente dos investidores com a sustentabilidade de seus investimentos.
Produtos e portfólios que buscam as certificações já têm lugar de destaque em diversos mercados, não somente no Real Estate. A sustentabilidade está na agenda das grandes empresas, dos mais diversos setores, assim como a diversidade e a governança, assuntos constantes nos conselhos das grandes corporações e nas assembleias dos grandes fundos de investimento, como fundo de ações, imobiliários (fii), linhas de crédito, entre outros. Muitas dessas ações surgiram, inclusive, por exigências dos próprios investidores.
Tendo em vista o crescimento global de empreendimentos sustentáveis, o potencial no Brasil é imenso. Claro, ainda há muitos desafios do ponto de vista social, como resolver o déficit de moradias para a população de baixa renda e de uso social. Sem linhas de crédito adequadas, não há maneira de viabilizar esses projetos.
No entanto, nosso país é naturalmente o que mais gera crédito de carbono, devido à grandeza dos nossos recursos naturais, por isso, o conjunto de ações que aliem a preservação do meio ambiente com o desenvolvimento de projetos sustentáveis e inclusivos tem grande potencial e muitas frentes a serem exploradas.
(*) Celina Vaz Guimarães é sócia e responsável pela Relação com Investidores da Paladin, gestora de fundos de investimentos imobiliários dos Estados Unidos e que atua no Brasil na originação e gestão de desenvolvimentos imobiliários.