Diagnóstico precoce garante qualidade de vida do paciente com Alzheimer
Hoje, 21 de setembro, é o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, data importante para esclarecer atitudes que visem uma melhor qualidade de vida do paciente e familiares. Embora a patologia seja incurável, existem tratamentos e medidas que colaboram para que a progressão da doença seja desacelerada e que, quanto mais cedo o problema for descoberto, mais possibilidades e recursos o paciente terá.
A geriatra que atua na S.O.S. Vida em Sergipe, Luana Brandão, destaca que os sinais que podem indicar a doença de Alzheimer são vários fatores que apontam para um comprometimento da capacidade cognitiva.
“Os sinais mais conhecidos são os distúrbios de memória, principalmente sobre fatos recentes. Porém, precisamos ficar atentos a outros sinais que podem surgir, por exemplo: transtorno de atenção, distúrbios emocionais – instabilidades emocionais muito frequentes – também os pacientes podem começar a ter dificuldade na execução e algumas tarefas que eles faziam com facilidade, mudanças comportamentais. Então, nós precisamos entender que quando nós falamos de doença de Alzheimer, o início dela, embora o mais comum seja apresentar distúrbios de memória, existem outras esferas da cognição que podem indicar o início de um processo demencial”, explica.
A geriatra da S.O.S. Vida de Salvador, Fernanda Reis, indica que os familiares podem considerar o idoso menos organizado, pode ocorrer repetição da mesma pergunta, dificuldade de elaboração de ideias e resolução de problemas. Além de irritabilidade, agressividade e tendência ao isolamento, que também são sintomas que sugerem a demência.
As geriatras apontam que assim que um desses sinais é percebido pelos familiares, pelo próprio paciente, ou por pessoas próximas, é preciso buscar um especialista para avaliar o caso, o diagnóstico precoce pode trazer mais qualidade de vida para o paciente e impactar na progressão da doença.
“O geriatra e o neurologista são os principais especialistas que mais lidam com a doença. Devemos lembrar também que embora o Alzheimer seja muito mais comum nos idosos, ele não é uma doença apenas do envelhecimento, então se uma pessoa mais jovem perceber sintomas como os citados ela também deve procurar um especialista”, alerta Luana.
O diagnóstico de Alzheimer nem sempre é feito de forma imediata. Ele ocorre com a avaliação clínica do paciente e dos sintomas, que são relatados pelo próprio paciente ou familiares. Testes de estado mental são realizados para rastreio e avaliação do comprometimento das principais funções cognitivas.
Fernanda aponta que causas reversíveis de demência – como depressão, tumor cerebral, acidente vascular cerebral, hipotireoidismo, dentre outros – devem ser afastadas com exames de sangue e de imagem (tomografia ou ressonância magnética) e por fim, esse déficit das funções cognitivas devem ocasionar piora da funcionalidade no cotidiano do idoso, então o acompanhamento é necessário.
Luana salienta que além dessa tríade, é possível também lançar mão do petscan neurológico, onde é possível avaliar a funcionalidade de áreas específicas do cérebro compatíveis com a Doença de Alzheimer e até mesmo alguns marcadores. Esses recursos são usados com menos frequência mais também podem ser empregados, se houver necessidade, para o diagnóstico.
A médica salienta que o tratamento da doença é feito com medicações e ela pode sim ser retardada, melhorando a qualidade de vida do paciente, embora continue sendo uma patologia crônica e degenerativa.
“Algo fundamental é também a reabilitação neuropsicológica, além do tratamento medicamentoso. Ela é de fundamental importância para a reabilitação do indivíduo, e deve estar associada ao tratamento medicamentoso”, detalha Luana.
Fernanda destaca que os inibidores da colinesterase e a memantina são atualmente as medicações disponíveis para melhora dos sintomas da doença, cujo objetivo são retardar a progressão dos sintomas cognitivos, atenuar sintomas neuropisquiátricos, manter a funcionalidade e melhorar a qualidade de vida.
Ela também enfatiza que a reabilitação cognitiva, exercícios físicos supervisionados, fisioterapia, socialização, terapia ocupacional e fonoterapia são indicados para a maioria dos pacientes. “Trata-se de um tratamento multidisciplinar”, completa.
A geriatra ainda aponta que o paciente deve ser inserido nas atividades sociais, proporcionando ambientes seguros, bem iluminados. Porém, é necessário estabelecer uma rotina para proporcionar uma sensação de estabilidade.
“As atividades devem ocorrer de maneira simplificada e calendário e relógio com números grandes devem estar visíveis. Também acredito que o diagnóstico sempre deverá ser compartilhado com o paciente. Nas fases mais avançadas do Alzheimer os sintomas passam a interferir na autonomia do indivíduo, e nesse momento, o auxílio de um cuidador em tempo integral é necessário. Para a família, minha dica é: sejam compreensivos e evitem repressões”, indica Fernanda.
Luana destaca que é importante que a família não veja o paciente como uma pessoa incapaz, como se a vida tivesse terminado. “Devemos ver o paciente como uma pessoa com um problema de saúde que deve ser tratado de uma maneira correta. Também é importante identificar em que fase foi identificado o problema e o que pode ser feito a partir dali. A doença de Alzheimer é muito longe, e dependendo da fase, é possível mantê-lo ativo na sociedade”, salienta.
A geriatra também acredita que, a depender da fase da doença, é importante compartilhar o diagnóstico, pois o paciente tem o direito de saber, deixando claro que tem tratamento e tudo será feito para minimizar os efeitos.
A saúde mental do cuidador da pessoa com Alzheimer é um tema de grande importância no contexto atual, opina a psicóloga da S.O.S. Vida, Cláudia Cruz.
“As famílias modernas, com núcleos menores e a necessidade de promover ajustes internos para a sua manutenção, acaba gerando uma sobrecarga de trabalho e responsabilidade sobre um membro, que não tem com quem compartilhar os cuidados. Outro fator que corrobora para a sobrecarga do cuidador é a pandemia, que trouxe o distanciamento social como medida de proteção e propagação do vírus, gerando um cuidar solitário e com atividades de vida bem restrita”, analisa a psicóloga.
A solidão no cuidado, associado ao estresse, ansiedade, desgaste físico e mental, acabam gerando sofrimento psíquico em quem cuida. O cuidador acaba focando nos cuidados ao paciente/familiar e negligencia a própria vida e o autocuidado, passando a viver uma rotina rígida, sem espaço para atividades que gerem prazer e deem sentido também a sua vida.
Neste sentido, é necessário pensar em estratégias para diminuir o desgaste natural provocado pelo processo de cuidar. Cláudia indica que buscar informações sobre a doença, entendendo como ela funciona e o que pode fazer para diminuir a sensação de impotência, é fundamental, pois informação ajuda a dá contorno à experiência.
“Deve-se viver um dia de cada vez, sem atropelar os acontecimentos. Caso as demandas sejam muito grandes, a indicação é traçar prioridades. Também é essencial tirar um tempo para uma atividade para si mesmo que gera prazer e bem estar, nem que sejam 30 minutos por dia”, orienta.
Nos momentos de ansiedade, uma dica simples pode ajudar: respirar. A respiração auxilia numa melhor oxigenação cerebral e, consequentemente, melhor manejo das dificuldades.
“Conexão com pessoas ajuda a melhorar o sentimento de solidão. Alongar ajuda a relaxar o corpo e traz sensação de bem-estar. Assim como a atividade física, que auxilia num melhor manejo da ansiedade. Além disso, é preciso buscar ajuda profissional sempre que sentir que não consegue lidar com a dor”, finaliza a psicóloga.