Ato da Anistia Internacional exige justiça para Marielle e Anderson
Marcando três anos do assassinato da vereadora e defensora de direitos humanos, Marielle Franco, e de seu motorista, Anderson Gomes, a Anistia Internacional Brasil entregará hoje uma petição representando as mais de 1 milhão de assinaturas de pessoas do Brasil e do mundo que há três anos exigem justiça por Marielle e Anderson. Os destinatários desses pedidos de justiça são o governador em exercício, Claudio Castro, e o procurador-geral de Justiça do estado do Rio de Janeiro, Luciano Mattos.
Conhecida por suas mobilizações de rua, com ativistas, devido a pandemia da Covid-19, a Anistia Internacional Brasil optou por uma ação móvel. O ato “Vozes por Marielle e Anderson” será ouvido hoje pelas ruas do Rio de Janeiro. Um caminhão, com um painel de led, circulará em alguns pontos-chave (onde ocorreu o assassinato de Marielle, em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo do estado do Rio e também em frente ao Ministério Público do estado e outros) propagando a mensagem: “Três anos é muito tempo sem respostas! Exigimos justiça para Marielle e Anderson”. A Anistia Internacional Brasil reuniu mais de 10 idiomas em mensagens que vieram de países como Alemanha, Espanha, França, Suécia, Portugal, Ucrânia, Argentina, Chile, México, Mongólia, Taiwan, Nova Zelândia, entre outros.
“A Anistia Internacional Brasil cobra por justiça desde o início do caso. Três anos é tempo demais para não se saber quem mandou matar Marielle e por quê. Nossa mobilização exigindo justiça rompeu as fronteiras do Brasil e ganhou adesão de milhares de pessoas ao redor do mundo. Assim como nós, elas levam a injustiça feita com Marielle e Anderson para o lado pessoal e se unem para exigir que o caso seja solucionado definitivamente e os executores e mandantes sejam processados, julgados e responsabilizados”, afirma Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil.
O caso Marielle Franco completa três anos no domingo, 14 de março, e até agora os mandantes do crime ainda não foram descobertos e os acusados de terem participado de sua morte ainda não foram julgados pelo Tribunal do Júri. A Anistia Internacional Brasil acompanha com preocupação essa demora.
“No Brasil e no mundo, defensores dos direitos humanos ainda são ameaçados, perseguidos e assassinados. Nosso país é o terceiro mais perigoso para defensores de direitos humanos e do meio ambiente. Os Estados devem garantir a segurança e a liberdade de atuação dessas pessoas que lutam pelos direitos humanos, além de garantir que, caso seus direitos sejam ameaçados ou violados, sejam realizadas investigações sérias, imparciais e efetivas que levem à identificação e julgamento dos responsáveis. A impunidade não pode ser a resposta para o brutal assassinato de Marielle. A Anistia Internacional acredita também que já passa da hora das autoridades brasileiras agirem de forma transparente, permitindo que a sociedade conheça e avalie as fragilidades, limitações e acertos desta investigação para que não se espere mais por justiça. É preciso impedir que a impunidade seja a mensagem que o Rio de Janeiro e o país enviam às famílias, a todas e todos que agem em favor dos direitos, a sociedade brasileira e ao mundo”.
A Anistia Internacional Brasil e o Instituto Marielle Franco enviaram pedidos de audiências online para se reunirem com o governador em exercício, Claudio Castro, e com o procurador-geral de Justiça do estado do Rio de Janeiro, Luciano Mattos. Mas não receberam respostas dessas autoridades. Tanto a Anistia, quanto o Instituto, esperam que sejam abertos diálogos entre as famílias das vítimas e seus representantes com os novos ocupantes do executivo e do Ministério Público fluminense, e que as autoridades possam compartilhar quais providências têm adotado para que o caso seja solucionado.
“Enquanto as autoridades não resolverem esse crime, elas estão enviando uma mensagem clara a brasileiros e brasileiras e ao mundo que violações contra defensores dos direitos humanos são permitidas no Brasil. Exigir justiça para Marielle é não permitir que outro assassinato de defensores dos direitos humanos fique impune. O governador em exercício do Rio, Claudio Castro, e o procurador-geral do estado, Luciano Mattos, precisam ser transparentes para que a sociedade brasileira e a comunidade global saibam o que fizeram no ano passado para garantir justiça por Marielle”, explica Jurema.
Domingo, quando completa-se três anos sem Marielle, a Anistia Internacional Brasil lançará um vídeo nos seus perfis oficiais nas redes sociais. Narrado pela atriz Taís Araújo, que gentilmente cedeu sua voz para o projeto, a luta de Marielle será lembrada junto com a história de outras 11 defensoras de direitos humanos.
Entre as defensoras escolhidas para o filme, mulheres do nosso tempo, como a quilombola Sandra Maria Andrade e as mães que lutam para um dia terem justiça pela morte de seus filhos, mortos por agentes do estado, como Débora Maria da Silva, Fátima Pinho, Maria Dalva Correia da Silva e Rute Fiuza Silva. Também presente no vídeo, Chelsea Manning, defensora da igualdade de gênero e segurança da informação é uma ex- militar transexual do exército dos EUA. Jani Silva, defensora da Amazônia, que teve seu caso ficou conhecido mundialmente na campanha Escreva por Direitos 2020, é lembrada pela defesa do meio ambiente na Colômbia. Outras duas ambientalistas também são reverenciadas: Dorothy Stang, defensora do direito à terra e da Amazônia brasileira, assassinada em 12 de fevereiro de 2005 e Berta Cárceres, líder indígena de Honduras, assassinada em 2 de março de 2014. Foram mortas por não se calarem diante da injustiça em seus territórios. E as mais recentes defensoras e jovens ativistas Malala Yousafzai e Greta Thunberg, que estão revolucionando a defesa pelo direito à educação e o enfrentamento da crise climática. Além de Anielle Franco, irmã de Marielle e diretora-executiva do Instituto Marielle Franco.
“As barreiras que as defensoras de direitos humanos precisam superar ainda são enormes. Reunimos uma diversidade de mulheres neste vídeo para mostrar que cada uma delas tem a garra, o engajamento, a alegria e a esperança que víamos nos gestos e falas de Marielle. Como um movimento global e na força dessas mulheres, a Anistia Internacional seguirá denunciando as injustiças, lutando pelos direitos de toda e qualquer pessoa para tornar esse mundo mais diverso, inclusivo e justo”, afirma Jurema.
A Anistia Internacional é um movimento global de mais de 7 milhões de pessoas que encaram a injustiça como algo pessoal. A organização realiza campanhas para que direitos humanos internacionalmente reconhecidos sejam respeitados e protegidos no Brasil e no mundo. Criada em 1961, pelo advogado britânico Peter Benenson, atua no Brasil desde o período do Regime Militar e teve seu escritório sede inaugurado no Brasil em 2012.