Edição 361 Fevereiro 2025
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Domingo, 16 De Março De 2025
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Publicado em 19/02/2025 - 7:13 am em | 0 comentários

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Artistas indígenas abrem ciclo de exposições gratuitas na Caixa Cultural

“O olhar indígena que atravessa a lente”: obra de Edgar Kanaykõ Xakriaba

Artistas indígenas abrem ciclo de exposições gratuitas na Caixa Cultural

A Caixa Cultural São Paulo apresenta até 11 de maio a exposição de arte indígena “Nhe’ ẽ Se”. A mostra, que revela o desejo de fala dos povos indígenas na cidade mais populosa da América, tem visitação gratuita de terça a domingo, das 8 às 19 horas, na Praça da Sé, 111, na capital paulista.

Com o propósito de comunicar ideias e emoções, o projeto traz obras de 13 artistas indígenas vindos de diferentes regiões do Brasil, com curadoria de Sandra Benites e Vera Nunes. A exposição mescla obras de novos e renomados artistas: Aislan Pankararu, André Hulk, Auá Mendes, Daiara Tukano, Day Molina, Déba Tacana, Edgar Kanaykõ Xakriabá, Glicéria Tupinambá, Paulo Desana, Rodrigo Duarte, Tamikuã Txihi, Xadalu Tupã Jekupé, e Yacunã Tuxá.

Diversas linguagens se apresentam no projeto. É possível ver obras mais alinhadas à arte urbana, como as da artista Daiara Tukano, natural de São Paulo, do povo Yepá Mahsã, mais conhecido como Tukano. Já Aislan Pankararu, de Petrolândia, no interior de Pernambuco, traz obras com argila; e Paulo Desana, do povo Desana, utiliza luz neon para iluminar o rosto de corpos indígenas.

De acordo com o gerente da Caixa Cultural São Paulo, Alexandre Gidaro, a programação do espaço para 2025 promete agradar a todos os públicos: “Recentemente, tivemos grande sucesso com a passagem de projetos relevantes como a World Press Photo e as obras de Nelson Leirner e, agora, comemoramos a abertura deste novo ciclo, com uma exposição que chega para destacar a arte indígena contemporânea e abrir caminhos para uma programação muito diversa. Esperamos estrear outras três exposições até meados de março”.

Em meio ao cenário urbano de São Paulo, a exposição Nhe’ ẽ Se mergulha nas formas como os povos indígenas enxergam a vida, a comunidade e a natureza. Desde a origem do mundo, os rios são vistos como as veias da terra e canais que conectam o mundo físico ao espiritual, fornecendo sustento e equilíbrio.

Entrecortada por mais de 300 rios e córregos, como Tietê, Pinheiros e Tamanduateí, São Paulo é uma cidade rodeada de água. Porém, ao longo de sua construção, os rios deram lugar ao asfalto. De acordo com as curadoras, a exposição incorpora um olhar sensível a essa dicotomia entre a relação espiritual dos povos indígenas com as águas e a forma como os rios por vezes emergem em intensas chuvas de verão, causando o lembrete de uma vida ainda pulsante em São Paulo.

A exposição traz o lançamento exclusivo de um manto desenvolvido pela artista Glicéria Tupinambá, natural da aldeia Serra do Padeiro, localizada na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no Sul da Bahia.

Os mantos Tupinambá são vestimentas sagradas feitas de penas de aves e utilizadas por lideranças indígenas do povo Tupinambá antes da colonização europeia. Eles simbolizavam poder, espiritualidade e pertencimento e eram usados em rituais importantes. No período colonial, os portugueses coletaram diversos artefatos indígenas, incluindo os mantos, que foram levados para museus e coleções europeias.

Glicéria Tupinambá tem se destacado no processo de recuperação e valorização da cultura, recriando mantos e resgatando o conhecimento ancestral. Segundo a artista, a indumentária representa para o povo Tupinambá uma confluência entre a dimensão espiritual, o meio ambiente, a economia, a agroecologia e a transmissão de saberes.

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