Edição 356 Setembro 2024
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Sábado, 12 De Outubro De 2024
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Publicado em 25/09/2024 - 7:02 am em | 0 comentários

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38º Panorama da Arte Brasileira: Mil graus acontecerá no MAC USP

Rop Cateh Alma pintada em Terra de Encantaria dos Akroá Gamella (Território Indígena Taquaritiua/MA)Esculpido em madeira e retinto como o breu, o santo é festejado todos os anos, na Baixada Maranhense, entre as cidades de Viana, Matinha e Penalva. As pessoas que o cultuam foram por décadas chamadas de ‘caboclos’ e apontadas pejorativemente como ‘os índios’. Foi em novembro 2014 que “os índios” passaram a reivindicar perante o Estado e a sociedade envolvente uma identidade indígena específica (não mais genérica). Os Akroá Gamella sempre esteveram ali, demarcando suas terras com os pés, como eles mesmo dizem, e utlizando os recursos naturais, sob regras específicas, com o intuito de preservar a natureza e manter a sua subsistência físisca e simblólica. Foi em segredo mantiveram vivos Entidades que sobreviveram à censura identitária e ao racismo. Bilibeu foi um deles, o mais conhecido de todo os Encantados locais. São Bilibeu perseverou ao silenciamento e permaneceu preservado publicamente porque ficou mimetizado dentro das comemorações do carnaval. Nesse período em que “tudo pode”, Bilibeu pode existir e sair às ruas num festejo que dura 4 dias, no qual dezenas de crianças e adultos pintados de carvão, marcham durante dez ou doze horas, incorporando os ‘cachorros de Bilibeu’ que, de casa em casa, de aldeia em aldeia, caçam. A matilha de cachorros e cachorras, sob orientação de um chefe, o ‘gato maracajá’, caçam comida e bebida para oferecer ao santo que em um determinando momento do ritual morre, é enterrado, sob o choro de mulheres, e renasce na manhã seguinte para continuar dando fartura e fertilidade ao povo Akroá Gamella. Se antes, era celebrado no carnaval, hoje o povo Akroá Gamella, escolheu outra data para o ritual. O dia 30 de abril é, desde de 2019, a data em que Bilibeu é cultuado. Bilibeu definitivamente não é uma festa, é um rito. Um rito que agora marca um evento de muita dor, tristeza e revolta. Pois foi nesse dia, no ano de 2017, que

38º Panorama da Arte Brasileira: Mil graus acontecerá no MAC USP

O Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo inaugura em 5 de outubro o 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil graus, exposição com curadoria de Germano Dushá e Thiago de Paula Souza, e curadoria-adjunta de Ariana Nuala, cujo título evoca a ideia de um “calor-limite”, onde tudo se transforma, fazendo referência às condições climáticas e metafísicas intensas que desafiam e conduzem a processos inevitáveis de transmutação. Nesta edição, a mostra bienal do MAM apresenta 34 artistas de 16 estados brasileiros.

Em função da reforma da marquise do Parque Ibirapuera no trecho em que o MAM está sediado, esta edição do Panorama será apresentada no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, instituição parceira e que divide uma mesma origem com o MAM. A exposição vai ocupar partes do térreo e o terceiro andar do MAC USP com mais de 130 obras, sendo 79 inéditas, realizadas para o 38º Panorama.

“Faz alguns anos que o MAM tem estabelecido parcerias com as instituições do eixo cultural do Parque Ibirapuera. Realizar o 38º Panorama da Arte Brasileira do MAM no MAC, além de uma aproximação histórica entre as duas instituições, é um momento de integração e soma de esforços em benefício da arte”, comentam Elizabeth Machado e Cauê Alves, respectivamente presidente e curador-chefe do MAM.

Para José Lira, diretor do MAC USP, “é com enorme satisfação que o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo acolhe o 38º Panorama da Arte Contemporânea Brasileira, tradicionalmente realizado pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo. Desde 2018, tem sido um traço fundamental da gestão do MAC USP estabelecer parcerias institucionais para realização de exposições e eventos culturais em geral”.

A proposta curatorial do 38º Panorama da Arte Brasileira é elaborar criticamente a realidade atual do Brasil sob a noção de calor-limite – conceito que alude à uma temperatura em que tudo derrete, desmancha e se transforma. O projeto busca traçar um horizonte multidimensional da produção artística contemporânea brasileira, estabelecendo pontos de contato e contraste entre diversas pesquisas e práticas que, em comum, compartilham uma alta intensidade energética.

A pesquisa da curadoria foi norteada a partir de cinco eixos temáticos: Ecologia geral, Territórios originários, Chumbo tropical, Corpo-aparelhagem, e Transes e travessias. Os eixos não funcionam como núcleo ou segmentos da exposição, mas sim como fios condutores que instigam reflexões e leituras, traçando possíveis relações entre os trabalhos a partir dessas perspectivas.

Em Ecologia geral, são destacadas noções ecológicas e práticas ambientais ampliadas que se orientam por uma visão de interconectividade total. Já em Territórios originários, estão narrativas e vivências de povos originários, quilombolas e outros modos de vida fora da matriz uniformizante do capital, capazes de refletir visões alternativas sobre a invenção e a atual conjuntura do Brasil. Chumbo tropical, por sua vez, trará leituras críticas que subvertem imaginários e representações do Brasil, colocando em xeque aspectos centrais da identidade nacional.

Corpo-aparelhagem é a linha que busca evidenciar intervenções experimentais e reflexões sobre a contínua transmutação corpórea dos seres e das coisas, com seus hibridismos e suas inter-relações, enquanto Transes e travessias aborda conhecimentos transcendentais, práticas espirituais e experiências extáticas que canalizam os mistérios vitais.

O corpo formado por 34 artistas e coletivos apresenta obras que abordam questões ecológicas, históricas, sociopolíticas, tecnológicas e espirituais, e utilizam tanto tecnologia avançada quanto materiais orgânicos, como o barro.

Advânio Lessa construiu uma série inédita de esculturas que aludem a uma rede formada por diferentes polos e conectadas em diferentes espaços: o MAC USP, o Museu Afro Brasil Emanuel Araujo, o Caserê e a Umapaz. Adriano Amaral criou uma instalação comissionada para o térreo do MAC USP, a obra Cabeça-d’água (2024), uma estrutura arquitetônica, espécie de cápsula octogonal, que traz em suas paredes peças inéditas da série Pinturas protéticas (2022).

Ana Clara Tito apresenta uma instalação comissionada que ocupa o piso do campo expositivo com uma composição de peças em diferentes escalas, como uma ecologia rizomática. Com a obra comissionada Ascendendo o silêncio (2024), Antonio Tarsis toma o centro de uma das alas do campo expositivo.

Davi Pontes apresenta um trabalho comissionado no qual segue elaborações anteriores, envolvendo a criação de um repertório em conjunto com uma dupla de performers. Um registro documental inédito do centro espiritual e das obras de Dona Romana, líder espiritual da Serra de Natividade, uma das cidades mais antigas do Tocantins, será exibido em larga escala no campo expositivo.

Com duas obras inéditas, frutos de processos anteriores, mas que culminaram em projetos comissionados para o 38º Panorama, Frederico Filippi aborda a colisão e o atrito como ferramentas conceituais para reelaborar criticamente o imaginário social do Brasil e da América do Sul sob as marcas indeléveis do capitalismo avançado. Gabriel Massan apresenta um novo desdobramento de sua obra Baile do terror (2022-2024), no qual traça um paralelo entre a escalada de tensões e violências em âmbito global e os traumas da “guerra às drogas” no eixo Rio-São Paulo.

Ivan Campos apresenta a obra que marcou sua trajetória como seu projeto mais desafiador: uma pintura sem título (2008 – 2010), de sete metros horizontais, que levou um ano para ser concluída e traz os principais aspectos de sua obra. Em tons de verde e azul, o artista dá vida a uma selva intrincada, onde tudo está em movimento.

Falecido durante a concepção do 38º Panorama, Jayme Fygura é o único artista não vivo a compor a exposição, e sua participação é uma homenagem à sua trajetória e à sua obra que combina a pintura, com a tradição da escultura em metal, da poesia marginal, do rock e das denúncias de opressões cotidianas.

A colaboração entre Jonas Van e Juno B. resultou na videoinstalação imersiva Visage (2024), uma experiência ambiental envolvente que combina esculturas e mobiliários feitos com peças automobilísticas, luz, som e vídeo. José Adário dos Santos traz ao 38º Panorama um conjunto de esculturas que se referem a divindades e entidades das religiões de matriz africana, como Ogum Oniré, Oxossi Odé, Agué, Padilha e Exu, e Joseca Mokahesi Yanomami apresenta dez obras inéditas.

Lais Amaral participa com duas pinturas da série Como um zumbido estrelar, um pássaro no fundo do ouvido, Sem título I e Sem título II, ambas de 2024, enquanto Labō e Rafaela Kennedy apresentam uma série de fotografias em que mergulham no entrelaçamento entre fenômenos naturais e cenários urbanos do Norte do Brasil.

Lucas Arruda exibe uma série de pinturas que sugerem um espaço entre o real e o imaginário, com paisagens que caminham entre o figurativo e o abstrato. Com uma obra comissionada, Marcus Deusdedit desdobra sua investigação sobre a edição de objetos, reformulando um equipamento de exercício físico para discutir questões sociais e políticas.

Marina Woisky apresenta uma instalação formada por uma série de peças inéditas, nas quais toma como ponto de partida as ilustrações científicas e representações idealizadas, que combinam diferentes eras e regiões para demonstrar o movimento ou a evolução da vida biológica na superfície terrestre.

Maria Lira Marques leva uma série com mais de dez desenhos sobre pedras e Marlene Almeida apresenta duas obras com dinâmicas distintas: Derrame (2024), uma instalação inédita feita com recortes de algodão cru tingidos com pigmentos originários do basalto e rocha vulcânica, e Tempo voraz II (2012), obra em que a artista reflete sobre questões existenciais diante da fugacidade da vida. O grupo Mexa traz, em apresentação única, a peça inédita no Brasil A Última Ceia (2024).

Mestre Nado, como ficou conhecido Aguinaldo da Silva, apresenta três obras inéditas, esculturas de grande escala – raras na sua produção – que parecem espécies de torres de sopro, remetendo a instrumentos como a gaita de foles. Melissa de Oliveira apresenta duas obras ligadas a suas vivências no universo do “grau”. As imagens, produzidas com conhecidos e familiares, retratam a prática de empinar moto em manobras exibicionistas e arriscadas.

Noara Quintana exibe duas obras inéditas comissionadas para o 38º Panorama. A primeira, Satélite esqueleto âmbar (2024), da série Futuro fóssil, configura uma reprodução de um objeto espacial gravitando sobre o campo expositivo. Na segunda obra, intitulada Gengiva de fogo (2024), uma grande massa rubra e disforme paira sobre nossas cabeças. Rafael RG apresenta duas obras comissionadas que se conectam e se complementam em suas naturezas: uma objetual e outra performática. Em uma delas, De quando o céu e o chão eram a mesma coisa (2024), o artista resgata grafias imemoriais inspiradas na observação do céu.

Rebeca Carapiá apresenta uma grande peça comissionada para a exposição, que remete tanto a uma escrita urbana quanto a códigos de outros tempos. Solange Pessoa traz à exposição uma constelação de quase uma dúzia de esculturas de pedra-sabão, e um conjunto composto por três peças de cerâmica e lã (2019-2024), que remetem a fragmentos de rochas escuras, que guardam a potência de tempos imemoriais.

O povo Akroá Gamella, em colaboração com Gê Viana e Thiago Martins de Melo, participa sob o nome de Rop Cateh – Alma pintada em Terra de Encantaria dos Akroá Gamella, e exibe um grande painel multimídia que expressa a identidade e espiritualidade articuladas pela comunidade. Com um conjunto de vinte esferas cerâmicas com marcações gráficas feitas com óxido de ferro, Sallisa Rosa dá vida a seu exercício contínuo de vínculos com a terra e os territórios.

Paulo Nimer Pjota apresenta uma obra inédita, em cinco telas, no qual cria um mar de chamas atravessado por raios de sol difusos, em que animais e seres fantásticos se misturam a lendas e elementos da natureza-morta de diferentes culturas. Paulo Pires participa com quatro obras que denotam seu estilo e, simultaneamente, a versatilidade de suas composições. Entre os trabalhos, estão a escultura de grande formato Os desejos da pedra (2023-2024) e O namoro da pedra (2021).

A Tropa do Gurilouko, uma turma de “bate-bolas” criada em 2023 no bairro carioca de Campo Grande, marca sua presença no 38º Panorama por meio da indumentária criada para o Carnaval de 2024, e de uma saída do grupo por São Paulo, nas imediações do MAC USP e do Parque Ibirapuera.

Zahỳ Tentehar apresenta sua pesquisa mais recente por meio da videoperformance Ureipy (Máquina Ancestral) (2023), e Zimar, como é chamado Eusimar Meireles Gomes, apresenta uma série de máscaras oriundas de sua ligação com a Bumba meu boi –, manifestação cultural de maior importância na região onde vive, a Baixada Maranhense.

Mais informações em www.mam.org.br/38panorama

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