Edição 360 Janeiro 2025
Edição 360Janeiro 2025
Sexta, 14 De Fevereiro De 2025
Editorias

Publicado na Edição 360 Janeiro 2025

Fotos Elysium/Divulgação

Em processo de restauro

Jockey Club de São Paulo: patrimônio histórico e cultural

Em processo de restauro

Marco do Art Déco e do conceito de “arquitetura total” – em que cada detalhe é planejado para harmonizar com a estética e funcionalidade do edifício –, o conjunto arquitetônico do Jockey Club de São Paulo, na capital paulista, passa por processo de restauração de suas características originais, muitas delas ocultas pelo desgaste do tempo. Desde os revestimentos até o mobiliário, tudo foi criado exclusivamente para o Hipódromo Cidade Jardim, patrimônio histórico e cultural da cidade de São Paulo.

Reformulado na década de 1950 pelo arquiteto francês Henri Sajous, o novo programa de restauro é financiado pela Lei de Incentivo à Cultura, que recebeu autorização para captar R$ 48 milhões em 2023. De acordo com Wolney Unes, diretor técnico da Elysium Sociedade Cultural, organização responsável pelo processo, um dos maiores desafios no Jockey Club é recuperar e, quando necessário, reproduzir peças não comerciais.

“O Jockey conta com um acervo de peças com desenho exclusivo para o clube, como dobradiças de cobre, fechaduras, cremonas e puxadores”, detalhou Wolney: “A restauração exigiu a elaboração de moldes e a busca por fundições artesanais capazes de reproduzir esses itens com precisão. Ainda restam luminárias dos salões sociais que precisam ser recriadas, mantendo a fidelidade ao projeto original”.

Como cada elemento do Jockey foi cuidadosamente criado sob medida – desde os revestimentos e mobiliário até a iluminação, passando por detalhes como portas, esquadrias e obras de arte decorativas –, na busca por manter os materiais originais da construção os restauradores se depararam com desafios, contou Wolney: “Originalmente, foram usados dois tipos de madeira nos tacos do mosaico do piso dos salões sociais: imbuia e jacarandá, além de inserções de ipê. Algumas dessas espécies correm o risco de extinção e são, portanto, protegidas. A opção foi selecionar madeiras de espécies próximas em cor e textura”.

Ele destaca as poltronas desenhadas por Sajous, cujas peças originais são revestidas com tecido de lã de Aubusson, um vilarejo francês especializado nesse material. Embora os bordados florais já tenham sido reproduzidos com maestria por artesãs do Sul de Minas Gerais, encontrar um tecido equivalente no Brasil é impossível devido aos processos de produção exclusivos na região. Assim, seria necessário encomendar essas peças diretamente da França.

A riqueza dos edifícios do Hipódromo Cidade Jardim inclui materiais nobres, como mármore Calatava, retirado da Toscana, na Itália, de minas vizinhas à cidade de Carrara; cortinas de seda tecidas em Lyon, na França, peças exclusivas fundidas em cobre e painéis com douramento e aplicação de laca chinesa. O espaço conta com 15 esculturas de escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret (1894-1955).

Curiosidades da construção do Jockey

Conheça algumas curiosidades que os especialistas apontam na construção do Jockey Club.

. Em alguns mármores da Tribuna Social foram encontrados fósseis marinhos de crustáceos e moluscos.

. Durante a construção, materiais como tijolos foram produzidos diretamente no terreno, devido à falta de fornecedores próximos.

. As grades florais nas estruturas metálicas são desenhos inspirados nas folhas do cafeeiro, criadas por Henri Sajous para homenagear os produtores de café que eram sócios do clube.

. A cobertura da Tribuna Social tem um balanço em concreto armado que ainda hoje é o maior de todo planeta: mais de 25 m de vão livre.

Técnicas são repassadas para jovens

Edifícios do Hipódromo Cidade Jardim inclui materiais nobres

Os conceitos de educação patrimonial e as práticas de restauração aplicadas no Jockey Club estão sendo transmitidos a jovens interessados no tema. O Ateliê de Artes e Ofícios oferece também aulas de história da arte, fotografia e marketing. Até agora, 48 pessoas já se formaram, e outras 30 estão participando da quarta turma.

“Essa é a nossa maior turma até o momento. O curso não só forma profissionais capacitados, mas também integra a comunidade ao grande projeto de restauração. O objetivo é manter viva não apenas a história de São Paulo, mas também a do país, dada a relevância histórica e cultural deste patrimônio”, destacou Wolney.

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