Smart City para quem?
Nelson Tucci
O leitor já deve ter ouvido falar em Smart City, ou Cidade Inteligente, definida por sua conectividade, de forma a tornar a vida melhor e sustentável. Songdo, na Coreia do Sul, e Masdar, nos Emirados Árabes, são dois exemplos bem acabados. Urbanistas e tecnólogos estão se debruçando em cima de soluções para que mais cidades atinjam tal status. No mundo real brasileiro, ao abrirmos a porta nos deparamos com a dura realidade: uma infinidade de “moradores de rua” (numa expressão paradoxal) e um brutal número de animais abandonados. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) estima quem em 2015 já existissem no país mais de 100 mil pessoas “em situação de rua”. A projeção é que este número tenha crescido 10% até os dias atuais. De outro lado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que só no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados, entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Ou seja, seres, que se definem como humanos, atiram jovens, velhos e outros semelhantes ao deus-dará, como se descartam garrafas PET. Já os pets – cães e gatos, especialmente – são simplesmente abandonados em locais ermos, para não acharem o caminho de volta, ou trancafiados em casas desocupadas por inquilinos, sem que tenham a menor ideia do que esteja acontecendo em sua existência. Neste contexto, cabe a reflexão: estamos construindo cidades “inteligentes” para quem habitá-las?