Quinto dos infernos
Nelson Tucci
Criada no século XVIII, a expressão “quinto dos infernos” teve origem na carga tributária de um quinto (ou 20%), estabelecida pela Coroa Portuguesa. Tamanho exagero criou um sentimento de indignação nacional e a Inconfidência Mineira personificou tal contrariedade. Daí para frente conhecemos bem a história. Hoje, passados 300 anos, a carga tributária beira os 40%; ou seja, o dobro do famigerado “quinto dos infernos”! Trata-se de um preço altíssimo para serviços prestados, invariavelmente, de baixa qualidade. Por isso a insatisfação permanece nos mais variados setores da vida nacional. O governo, em qualquer época, sempre busca arrecadar mais e mais, porque as despesas, especialmente com o rico funcionalismo – que nem sempre funciona como deveria –, crescem vorazmente. A base pagadora é sacrificada e a sonegadora beneficiada. Não se sabe mais o que é “problema social” ou safadeza, tamanho é o volume das transações informais. Está aí um círculo vicioso que precisa ser derrubado. Não custa nada lembrar que só de Independência temos 197 anos e de República 130 de vivência e… continuamos no “aperfeiçoamento”. Mais que novas alíquotas, seria necessária uma bela concertação nacional para que se decida que país queremos: com castas cada vez mais visíveis, ou sem elas? Com uma CPMF mal disfarçada ou sem ela? O Brasil clama por mais equilíbrio – moral, econômico e social – e uma reforma honesta ajudaria a aplacar o ânimo de indignação.