Obras de papel
Luiz Carlos Ferraz
Como nos últimos 100 anos, e sempre que é ano eleitoral, volta à baila a ligação seca entre Santos e Guarujá. É o momento em que políticos de diferentes níveis e partidos retomam o debate sobre a importância dessa obra no desenvolvimento social, econômico e cultural da metrópole. Num determinado momento, que se fixou no anedotário da política paulista, o então governador José Serra inaugurou em 2010 a maquete do que seria uma ponte ligando as duas cidades. Contudo, uma vez mais, era apenas promessa, com a alegação de que o Estado não tinha verbas e, da parte da iniciativa privada, o desinteresse era total. Desta vez, porém, parece ser diferente, pois a pauta agora é federal; e, pelo menos na Baixada Santista, polariza a movimentação de alguns candidatos que sonham com a presidência da República. De um lado, visando a reeleição, o presidente Jair Bolsonaro incluiu um túnel submerso no processo de privatização do porto de Santos – cabendo ao ministro Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura, anunciar que imporá o investimento ao consórcio que substituirá a Autoridade Portuária de Santos S.A., a empresa pública vinculada à sua pasta, que é responsável pela gestão do porto organizado. A estratégia, contudo, tem tudo para não se concretizar, pois tal mudança, da qual se fala desde a implantação da lei de modernização dos portos, em 1993, dificilmente avançará até 2 de outubro – data do primeiro turno das eleições. De outro lado, o governador de São Paulo João Doria aposta numa ponte, cuja construção já negociou com a Ecovias, atual responsável pelo sistema rodoviário Anchieta-Imigrantes e que, em troca, terá ampliado o tempo da concessão rodoviária, que encerra em 2025. Ou seja, o cidadão corre o risco de ter não apenas uma, mas duas ligações secas entre Santos e Guarujá – ou, ainda, ser novamente iludido com proposta eleitoreira! Pense bem, eleitor, antes de decidir quem será honrado com seu voto.