O sonho não acabou…
Luiz Carlos Ferraz
De magos a ex-presidentes, de criminosos a personalidades de gravata, é raro encontrar alguém no planeta, na atualidade (especialmente na pandemia!), que não tenha experimentado os efeitos recreativos da maconha – o produto mais conhecido e comercializado da cannabis sativa, planta da família das canabiáceas. As propriedades de sua resina, contudo, projetam um uso muito mais abrangente, no âmbito da saúde humana, podendo funcionar como analgésico, anódino, antiemético, antiespasmódico, calmante do sistema nervoso, entre outras indicações. Nas Olimpíadas e Paralimpíadas de Tóquio, por exemplo, o canabidiol (CBD) foi admitido como substância liberada para uso dos atletas, por ajudar a reduzir inflamações, relaxar os músculos e controlar dores. No Brasil, apesar das evidências científicas, nacionais e internacionais, o estigma do senso comum contra a prescrição de produtos e medicamentos à base de cannabis prejudica famílias e pacientes – obrigados a recorrer à importação –, ao mesmo tempo em que atravanca o funcionamento de associações e empresas que pretendem atuar no setor. No aguardo de uma regulamentação que dê segurança jurídica e possibilite a lavoura legal da planta, nos últimos meses a prescrição médica da cannabis medicinal cresceu 554% no país, ou seja, de janeiro a novembro a Agência Nacional de Saúde (Anvisa) recebeu 33.793 pedidos para importar tais medicamentos, contra 19.120 solicitações registradas em 2020. Seguindo a mesma tendência, aumentou em proporção semelhante o número de médicos autorizados pelo órgão a prescrever derivados canabinoides, passando de 321 em 2015 a 2.100 profissionais neste momento – e que revelam um crescente interesse por educação técnica qualificada. Já não era sem tempo!