O palhaço, o que é?
Luiz Carlos Ferraz
De todas as crises talvez a mais perigosa seja a de confiança, a confiança nas coisas relacionadas ao ser humano. Aparentemente sutil, é lícito afirmar que não havendo confiança, tudo, absolutamente tudo, pode acontecer. E na maioria dos casos, acontece. A história é farta em exemplos nos quais o golpe na confiança é fatal, de Judas ao vereador Jairinho, de Dalila ao policial Derek Chauvin. Cada um a sua maneira, no seu tempo e espaço, nos legou a tragédia da morte, esta passagem que nos acompanha desde o início da vida, que se constitui certamente o maior mistério da humanidade e que nos últimos meses persegue a todos indistintamente na forma de um minúsculo vírus – que pelo restrito lapso de tempo, a Ciência ainda desconhece sua potencial letalidade. Confiar em quem nesses dias? Nos profissionais da saúde, que no Brasil somam mais de mil mortos? Nos políticos, que, muito ao contrário, pouco aparecem nas estatísticas macabras de vítimas da Covid-19? No presidente inimigo do meio ambiente que pede dinheiro internacional para proteger a Amazônia? De maneira escancarada ou subliminar, a atual crise é tão cruel que nos tirou a confiança até mesmo no parente próximo, no pai, na mãe, no filho… Seja pelo amor de não contaminar, seja pelo risco de ser contaminado. E o amigo do peito? Meu primo Diamir, médico, morreu no início da pandemia. Dias desses, Lourenço nos deixou. Depois foi a vez de Pepe. Nesta inusitada crise, não é possível sequer confiar no palhaço; e o país é pródigo neste representante do picadeiro. Quem não se lembra do Carequinha, Pimentinha & Arrelia, Fuzarca e Torresmo, Piolin, Atchim & Espirro, Patati & Patatá? Não, o palhaço não é apenas o ladrão de mulher! Cuide-se.