Conciliar vocações
Luiz Carlos Ferraz
A crise sanitária e ambiental que escancarou a precária condição do saneamento básico das cidades da Baixada Santista – que, em relação ao país, é modelo! – repercutiu de forma preocupante, seja mobilizando autoridades, em busca de uma solução paliativa, seja adoecendo milhares de moradores e visitantes na passagem do ano, o que congestionou as redes pública e privada de saúde. Em que pese o jogo de cena dos gestores públicos, que insistem em demonstrar surpresa com a situação, a verdade é que há décadas se alerta para a necessidade de conciliar a vocação portuária da região, histórica, com a oportunidade de desenvolver o segmento turístico nas nove cidades que compõem a metrópole da Baixada Santista. Embora não seja impossível, não tem sido tarefa fácil, com o pouco empenho demonstrado nos últimos anos, com ações aqui e ali, especialmente as de marketing, tentando colar sem sucesso a dobradinha. Assim, os recentes acontecimentos devem ser interpretados como ultimatum para que o contexto seja debatido de forma responsável. Isto significa intensificar a fiscalização sobre os alimentos oferecidos, especialmente nos estabelecimentos e ambulantes que atuam na faixa de areia, assim como resolver, de uma vez por todas, a balneabilidade das praias dessas cidades. Para isto, é fundamental rastrear e punir as ligações clandestinas de esgoto que deságuam na rede de águas pluviais; e não só as residenciais, notadamente as que desembocam nos canais de Santos, por exemplo, mas especialmente aquelas junto ao complexo portuário, cujas atividades se espalham por Santos, Cubatão e Guarujá. Uma ação que exige sintonia entre a recém-privatizada Sabesp, responsável pela distribuição de água potável à população e coleta, tratamento e destinação final de esgoto, a Cetesb e Ibama, que atuam na fiscalização e preservação do meio ambiente, e a rede pública de saúde. Enquanto esta disposição demora, não é recomendável banhar-se nas praias da região, entre outros cuidados sanitários, o que significa privar esses municípios de desenvolverem seu potencial turístico de forma segura, ampla e irrestrita.