Cadeirada fatal
Luiz Carlos Ferraz
Não só pelo tamanho de seu colégio eleitoral, de pouco mais de 8 milhões de eleitoras e eleitores, mas especialmente pela virulência na disputa entre os candidatos a prefeito, a capital paulista está no foco do pleito de 6 de outubro, quando estarão sendo escolhidos os prefeitos e vereadores dos próximos quatro anos em 5.569 municípios brasileiros. O nível baixou tanto na campanha deste ano que, com toda certeza, será lembrada pela cadeirada grotesca desferida pelo candidato José Luiz Datena (PSDB) – e que, conforme sugerem as pesquisas de intenção de voto, ao mesmo tempo em que vitaminou a candidatura do apresentador, impactou negativamente a pretensão política de Pablo Marçal (PRTB); que, aliás, até parecia empolgar a classe média paulistana e redes sociais. Revelada sua condenação judicial por furto qualificado (cuja pena não chegou a cumprir), entre outros fatos desabonadores de sua vida pregressa, Pablo juntou munição contra os adversários e passou a disparar, sem preocupação com a ética e valendo-se de mentiras. No debate da TV Bandeirantes fez micagem cheirando cocaína e insinuou que o candidato Guilherme Boulos (PSOL) seria usuário da droga. Contra Tábata Amaral (PSB), o coach não teve escrúpulo em culpá-la pelo suicídio do pai. Sobre o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição, disse estar ligado à facção criminosa PCC. De Datena, tornou pública uma antiga acusação de assédio sexual, arquivada e negada pela própria vítima; ataque vil, mas suficiente para abalar a precária saúde da sogra do apresentador, que sofreu três AVCs e morreu. No debate da TV Cultura, após ser xingado de Dapena, arregão, Jack (estuprador, na gíria de cadeia) e, enfim, ter a masculinidade desafiada, Datena aplicou-lhe o golpe, que poderá ser fatal. A atitude, que teve repercussão internacional, preocupa quanto ao destino reservado à maior cidade brasileira nos próximos quatro anos.