Algo em comum
Luiz Carlos Ferraz
Tragédias que revelam faces sombrias da mesma deteriorada moeda, o Brasil exibiu ao cosmos – mais uma vez, nesta era de conexão instantânea interplanetária! – dois episódios emblemáticos da decadência moral a que está sendo submetido (numa vã tentativa de lavagem) o cérebro de seus cidadãos. No cume do poder político do país tornou-se ainda mais afamado o pernambucano Francisco de Assis Rodrigues, ex-governador de Roraima e atual senador da República por este estado – o que lhe garantia, também pela ligação efetiva (e afetiva, já que o próprio presidente Jair Bolsonaro o tratava, no passado recente, como parceiro de uma “quase união estável”), a condição de vice-líder do governo. Conhecido pela alcunha de Chico Rodrigues, ofereceu ao mundo espetáculo deprimente e escatológico durante operação da Polícia Federal de busca e apreensão em sua residência. O parlamentar, integrante da Comissão de Ética do Senado, tentou esconder, entre suas nádegas, soma considerável em notas de reais. A apreensão dos valores, notadamente sujos (no sentido físico e moral), somou-se a outras quantias, em reais e dólares, encontradas no local, mas que, a bem da verdade, não é possível confirmar origem ilícita ou relacionada a suspeita de sua participação em esquema de desvio na área da saúde. Em todo caso, o episódio lhe valeu o afastamento do cargo por 90 dias, devendo assumir o primeiro suplente, que é o próprio filho Pedro Arthur Rodrigues. Na mesma semana de outubro, no topo da paixão nacional, o mundo futebolístico agitou-se com a pretensa parceria entre o Santos Futebol Clube e o jogador Robson de Souza, que se revelou disposto a jogar “de graça”, por um período de três meses. Robinho queria apenas ajudar, ciente da crise financeira em que está mergulhado a agremiação que revelou Pelé. A solidariedade, contudo, durou pouco, até recordar-se que Robinho, desde novembro de 2017, é condenado em primeira instância, na Itália, a nove anos de prisão por violência sexual. Em meio ao repúdio generalizado, notadamente entre as mulheres e diante da pressão de patrocinadores, o glorioso alvinegro praiano voltou atrás. Instado a se defender, Robinho comparou-se ao presidente do país, coroando o contexto dantesco: “As pessoas estão me julgando e me atacando igual fazem com o Bolsonaro. Eu não entendo porque estão me atacando assim”.