Doença negligenciada
Os 2.470 casos de doença de Chagas relatados desde 1965 ocorreram na América Latina e foram causados principalmente pela ingestão de açaí contaminado. A taxa de letalidade foi de aproximadamente 1%. O estudo, denominado “Letalidade por doença de Chagas aguda transmitida por via oral: uma revisão sistemática e metanálise”, foi publicado em agosto na revista Clinical Infectious Diseases (CID – Doenças Infecciosas Clínicas), da Associação Americana de Doenças Infecciosas.
Segundo um dos autores do estudo, o cardiologista Miguel Morita Fernandes Silva, os resultados oferecem informações para políticas públicas que podem ajudar a reduzir o impacto da doença sobre a população.
Embora a infecção pelo inseto “barbeiro” com o parasita Trypanosoma cruzi já tenha sido a mais comum, atualmente no Brasil a transmissão alimentar é responsável por até 70% dos casos. “Nas últimas duas décadas, os casos agudos de doença de Chagas relacionados ao consumo de alimentos contaminados ocorreram com maior frequência na Bacia Amazônica, em áreas com produção e consumo de açaí”, explica Miguel. Quase metade dos casos foi diagnosticada no Pará, principal produtor de açaí no mundo. Há como prevenir a contaminação e há medidas obrigatórias em alguns estados, como Amapá e Pará, mas não existe programa do governo para controlar a produção. Cerca de 10% da produção brasileira de açaí é exportada, o que corresponde a seis mil toneladas de celulose de açaí.
O especialista alerta que o mal de Chagas é considerado uma doença negligenciada e que a transmissão oral da doença pode ser evitada com o controle do processamento de alimentos. Geralmente, o suco de açaí é preparado manualmente, durante a noite, quando os triatomíneos (“barbeiros”) são atraídos pela luz: “A contaminação pode ocorrer pela maceração dos triatomíneos no processamento da fruta ou pela deposição de suas fezes”. Outra fonte de contaminação pode ser a da água usada no processamento da polpa por secreções de marsupiais infectados.