Renovação urbana no Centro de Santos
Ricardo Beschizza
Durante o Seminário da Indústria da Construção Civil, organizado pelo Grupo A Tribuna, com o apoio da Assecob, tivemos a oportunidade de ouvir uma urbanista falando sobre um tema que atualmente chama muito a atenção: os desafios para o desenvolvimento da renovação urbana.
Áreas degradadas e abandonadas, em várias cidades pelo mundo, recebem a oportunidade de um novo “sopro de vida” e onde antes ninguém mais queria morar passam por uma grande transformação e voltam a ser consideradas áreas nobres e supervalorizadas.
O tal “sopro de vida” pode ter várias motivações de uma localidade para outra, contudo, sem a condução ou o real incentivo do poder público, poucos são os que se aventuram a investir nessas áreas.
Unir a opção de uso misto, comércio/trabalho e moradia, é a melhor e mais eficaz equação para a recuperação de qualquer área.
Bons exemplos não faltam e a utilização do sistema de retrofit pode ser uma excelente alternativa. No Rio de Janeiro, por exemplo, mesmo com todas as mazelas e dificuldades que acompanhamos pela mídia, o poder público identificou hotéis e prédios comerciais abandonados ou subutilizados para passarem pela ação de remodelação e servirem como edifícios residenciais.
Numa cidade como Santos, que não tem opções de expansão de área, a renovação urbana é a grande saída, pois, com isso, conseguiríamos manter na cidade muitas famílias que acabam buscando opções de moradia nos municípios vizinhos. Podemos também considerar positivamente a utilização da infraestrutura de água, luz, esgoto, transporte etc., já instalada nessas áreas, minimizando o investimento público nesses segmentos.
Outro ponto que também chama bastante a atenção é a valorização/transformação de áreas até então consideradas como os “fundos” de uma cidade, em áreas nobres (em novas “frentes”), agregando valor e nova utilidade para esses locais até então renegados.
Sobre esse aspecto, temos uma condição muito favorável em Santos e que poderia trazer ótimos resultados. Afinal, muito próximo do Centro, temos uma grande área próxima à linha d’água (leia-se armazéns portuários do 1 ao 8), que com efetivo empenho e dedicação do poder público poderia se tornar uma grande área de lazer, convivência e contemplação. Uma nova “frente”, nos “fundos” da cidade.
A cada dia que passa, contudo, por conta da ação do tempo e do abandono que é imposto para esse trecho do cais santista, logo, logo, teremos ali só ruínas!
A renovação do Centro de Santos é, sem dúvida, um grande desafio e muito ainda falta por fazer para que possamos definitivamente promover a reocupação de áreas cada vez mais abandonadas. As recentes ações e incentivos divulgados pela Prefeitura ainda estão sendo analisados pelo empresariado e levam um tempo para que comecem a surtir algum efeito.
Com uma ação efetiva de indução e viabilidade econômica para esses empreendimentos, temos certeza que vários empresários passariam a ter interesse em investir e ajudar a recuperar uma área tão nobre de nossa cidade, que serviu de palco para tantos fatos históricos do Brasil, que hoje vive uma época de decadência.
Trabalhar, morar e viver a vida num mesmo local é o sonho de muita gente e poderia ser a redenção para o nosso Centro.
Ricardo Beschizza é engenheiro civil, presidente da Assecob.