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Quinta, 18 De Abril De 2024
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Publicado na Edição 270 Julho 2017

Acervo FAMS

A tatuagem, no Brasil, surgiu em Santos

Lucky Tattoo em seu atelier da Rua João Otávio, em 1968

A tatuagem, no Brasil, surgiu em Santos

“It’s not a sailor if he hasn’t a tattoo” (Não és um marinheiro se não tiveres uma tatuagem). Esta chamada, inscrita numa pequena placa de madeira, tornou-se um marco na área portuária santista, mais especificamente na badalada Boca, zona de boemia e prostituição da área portuária. Era o marketing promovido pelo dinamarquês Knud Harald Lykke Gregersen, com o objetivo de fisgar seu público-alvo: os homens do mar que circulavam nas cercanias do negócio que abriu quando desembarcou no cais santista em 20 de julho de 1959.

Na bagagem, Gregersen trazia uma história de 31 anos e os ensinamentos do pai, um dos mais conhecidos tatuadores da Dinamarca dos anos 30/40, Tatto Jack. Decidido a fincar raízes no Brasil, ele adotou um codinome: Lucky (Sortudo, afortunado), talvez pela esperança de ser bem-sucedido na nova terra, o Brasil.

Na delegacia de imigração ele teve que explicar aos agentes o que fazia aquela estranha máquina de pintura. “É para gravar a pele, tatuar imagens no corpo”, teria dito aos curiosos brasileiros.

Livre da burocracia, logo alugou uma loja na Rua João Octávio, nº 2, na área mais agitada da Boca, onde ganhou fama e passou a tatuar estrangeiros de passagem pelo porto.

Aos poucos Lucky foi ganhando fama nacional e internacional. O estúdio de tatuagem era nos fundos da loja. Na frente, vendia souvenirs recolhidos nos 42 países que passou antes de se fixar no Brasil. Na época, muitos caminhoneiros o procuravam para marcar o corpo com imagens de Nossa Senhora Aparecida, Jesus Cristo e cruzes. Os jornais e revistas, nos anos 1960, o consideravam o primeiro e único tatuador da América do Sul.

O auge da fama de Lucky aconteceu nos anos 1970, quando tatuou o carioca José Artur Machado, o Petit, símbolo de uma geração de jovens bronzeados de Ipanema, imortalizado por Caetano Veloso na música “Menino do Rio”.

Knud ficou por vinte anos em Santos e era um dos protegidos da Boca, até que um marginal desavisado resolveu assaltar o ateliê. Lucky, desgostoso, resolveu fazer as malas e partir da cidade, para nunca mais voltar. Foi para Itanhaém, depois para Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, onde faleceu, aos 55 anos de idade, em 17 de dezembro de 1983.

A trajetória de Lucky Tattoo foi tão marcante que o dia 20 de julho (dia que chegou a Santos) foi escolhido para ser o Dia Nacional do Tatuador.

Conheça o trabalho desenvolvido pela Fundação Arquivo e Memória de Santos: acesse o site www.fundasantos.org.br

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