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Publicado na Edição 306 Julho 2020

Acervo FAMS

Mestre de novas sonoridades

Gilberto: “...como o trabalhador é explorado, esmagado sem nenhum dó”

Mestre de novas sonoridades

O maestro e compositor Gilberto Mendes gravou seu depoimento no estúdio da Universidade São Judas – Campus Unimonte, em 14 de março de 2012. Na entrevista, Mendes recorda sua infância vivida nos bairros do Boqueirão, na cidade natal Santos, e em Perdizes, na capital, para onde mudou com a família após a morte do pai. Ao falecer em 2016, aos 93 anos, Gilberto Mendes nos deixou um legado impressionante de sonoridades criativas, com composições executadas em várias salas de concerto mundo afora.

Gilberto Ambrosio Garcia Mendes nasceu em 13 de outubro de 1922, em Santos, e faleceu na mesma cidade, no dia 1º de janeiro de 2016. Mendes iniciou seus estudos de música aos 19 anos no Conservatório de Santos, incentivado por Miroel Silveira, tendo sido aluno de Savino de Benedictis (harmonia) e Antonieta Rudge (piano). Recebeu posteriormente orientação de Cláudio Santoro e Olivier Toni (composição) e frequentou ainda os Ferienkurse für Neue Musik, em Darmstadt, na Alemanha, em 1962 e 1968.

Conferencista e autor de artigos em revistas e jornais brasileiros, foi também professor colaborador em disciplinas relacionadas à linguagem musical pelo Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Como docente universitário atuou também nos Estados Unidos, como professor visitante na Universidade do Texas e na Universidade de Wisconsin. Já aposentado pela ECA-USP, chegou a ministrar cursos e palestras no recém-fundado Curso de Música pela USP em Ribeirão Preto, após 2002.

A primeira obra do compositor foi Episódio (1949), para voz aguda e piano, com poema de Carlos Drummond de Andrade. Por iniciativa de Eunice Katunda, sua primeira obra divulgada em público foi Peixes de Prata (1955), com poema de Antonieta Dias de Moraes, inicialmente composta para canto e piano, e, posteriormente, orquestrada pelo próprio compositor, por ocasião da trilha gravada pela Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto para o filme O dono do mar (2006), dirigido por seu filho Odorico Mendes.

Em Vila Socó, Meu Amor (1984), para coro feminino a cappella, Gilberto Mendes, em analogia ao filme Hiroshima mon amour (Alain Resnais, 1959), homenageia os 93 mortos no incêndio da favela Vila Socó, de Cubatão, em 1984. Ele escreveu a música dias após a catástrofe, tendo composto também a letra: “Não devemos esquecer os nossos irmãos da Vila Socó, transformados em cinzas, lixo em pó. A tragédia da Vila Socó mostra como o trabalhador é explorado, esmagado sem nenhum dó”.

Em 1997 musicou o poema O anjo esquerdo da História, de Haroldo de Campos, que fala sobre os 19 sem-terra assassinados em Eldorado dos Carajás, no Pará, no dia 17 de abril de 1996 – data que se tornou o Dia Mundial da Luta Camponesa e Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

Gilberto Mendes foi fundador, diretor artístico e programador do Festival Música Nova em Santos de 1962 a 2010, a mais antiga e importante mostra internacional de música contemporânea em toda a América. Por sua decisão pessoal, em 2012, o festival foi transferido para Ribeirão Preto, desde então nomeado Festival Música Nova “Gilberto Mendes”, tornando-se um festival com cursos, palestras, master classes e voltado para a formação de jovens músicos e compositores, abrigado na USP.

A entrevista completa de Gilberto Mendes pode ser acessada no canal oficial do Programa Memória-História Oral no Youtube, em www.youtube.com/c/programamemoriahistoriaoral

Conheça o trabalho desenvolvido pela Fundação Arquivo e Memória de Santos: acesse o site www.fundasantos.org.br

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