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Publicado na Edição 275 Dezembro 2017

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Relacionamentos na cadeia imobiliária

Carlos Borges: “Esta parceira é fundamental para termos produtos vendáveis e adequados para o consumidor no futuro”

Relacionamentos na cadeia imobiliária

“Estamos em um momento de mudanças em decorrência dos avanços tecnológicos, sendo necessária uma união do setor imobiliário, incluindo empresas, fornecedores, entidades e projetistas, para construirmos uma agenda setorial conjunta de longo prazo, porque a dispersão de energia e esforço é muito grande”. A afirmação foi feita por Carlos Alberto Moraes Borges, vice-presidente de Tecnologia e Sustentabilidade do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, ao abrir o III Encontro de Construtores e Incorporadores, que teve como tema “Repensando relacionamento para os novos tempos”.

O evento aconteceu em 5 de dezembro, na sede do Secovi-SP, na capital paulista, numa realização conjunta com o SindusCon-SP e apoio da Abap, Abece, Abeg, ABNT, Abrainc, Abramat, Abrasip, Abrava, Agesc, AsBEA, Aureside, CBIC, IBI, ProAcústica. O fórum reuniu 150 profissionais de empresas incorporadoras, construtoras e de projetos e conforme destacou Borges, há muita coisa boa sendo feita isoladamente, mas, coletivamente, muito pouco que tenha resultados relevantes: “Esta parceira é fundamental para termos produtos vendáveis e adequados para o consumidor no futuro”.

Representando o presidente do SindusCon-SP na abertura do evento, o vice-presidente Jorge Batlouni Neto reforçou a ideia de união de forças, abordando a necessidade de ajustes na legislação do País. “Não podemos ficar parados correndo o risco de perder competitividade”, declarou, ao listar algumas conquistas que beneficiam o setor, como a aprovação da lei da terceirização, a reforma trabalhista e aprovações mais céleres de projetos na Prefeitura de São Paulo: “Com tantas novidades acontecendo, nada melhor do que juntar as duas áreas – incorporação e construção – em uma parceria ganha-ganha, unificando pensamentos e otimizando esforços”.

André Glogowsky, da empresa HTB, falou sobre tendências da construção no mundo e apresentou dados de pesquisas da McKinsey e The Boston Consulting Group. Embora represente US$ 3,6 trilhões e 6% do PIB mundial, a indústria da construção enfrenta grandes dificuldades, como escassez de jovens talentos, processos informais, pouca cooperação e uma cultura conservadora. “Ainda não entramos verdadeiramente no mundo digital, precisamos trabalhar em processos. Não evoluímos como indústria nos últimos 60 anos”, comparou Glogowsky. No período, a taxa de crescimento anual composta da construção civil foi de 0,1, enquanto a da agricultura foi de 4,5.

Mudanças nos modelos de contratação numa relação cada vez mais transparente; divisão de riscos entre cliente, projetistas, construtoras e seguradoras; imagem do setor; investimento em pessoas; ganhos de produtividade; compliance e incentivo do poder público foram listados pelo palestrante, que endossou a necessidade latente de união da cadeia para aumento de produtividade e eficiência.

“Morar em tempos conectados” foi o tema do painel de Marcelo Dadian, da Zap/VivaReal, que discorreu sobre como a tecnologia vem mudando o comportamento do consumidor, cada vez mais ávido por experiências do que pela posse das coisas. “Para sermos inovadores em nossas empresas, precisamos entender o mercado em que estamos inseridos, prestar atenção no comportamento do consumidor”, disse Dadian. Para este consumidor, é mais relevante ganhar tempo – e morar perto do trabalho traz esse ganho. A utilização da capacidade instalada, monetizando espaços e coisas ociosas, é outra tendência. Nesse campo, destacam-se o Airbnb; e a locação de vagas de garagem, de carro e até de peças de vestuário são uma tendência. Ele citou como exemplo da tecnologia aplicada ao setor imobiliário as unidades residenciais compactas instaladas em contêineres, montadas como “legos”, como frames que podem ser levados de uma cidade para outra.

Maria Angélica Covelo, da NGI Consultoria e Desenvolvimento, falou sobre estratégias nas novas relações entre os agentes de produção. “Uma das grandes dificuldades nesse macro complexo é um se colocar na pele do outro”, afirmou a engenheira, que fez um retrospecto do setor dos últimos 47 anos, quando se falou pela primeira vez em desempenho na construção civil, na Noruega. No Brasil, o tema chegou 10 anos depois, em 1981, no BNH, por meio do IPT. Qualidade, racionalização, mudanças socioeconômicas políticos-culturais, mudanças no ambiente regulatório acompanharam as décadas de 1990 e 2000.

A consultora destacou os problemas da racionalização a custas de perda de desempenho. “Isso causou uma incapacidade de enxergar os verdadeiros custos e a necessidade de atender o consumidor, cada vez mais ciente de seus direitos, independentemente de classe social”, salientou, ao frisar que a chegada da Norma de Desempenho trouxe uma comoção setorial porque não havia visão estratégica. E criticou a falta de capacitação e de pesquisa dos profissionais envolvidos em projetos: “Não dá para esperar mais 20 anos para absorver esse conhecimento. Tem que mudar rápido”.

Maria Angélica elencou outros problemas: valorização de atributos distorcidos de empreendimentos por parte de incorporadores, elevado número de faculdades de engenharia civil e arquitetura (mais de 750) que despejam profissionais despreparados, falta de estudo aprofundado do consumidor de imóvel, falta de domínio de ferramentas pelos escritórios de projeto, melhor relacionamento com fornecedores e, por fim, a questão demográfica, com grande mudança da pirâmide etária em 2030. “Não teremos mais disponível uma mão de obra operária em idade economicamente ativa na construção civil da forma como temos hoje. Ou o Brasil caminha para elevar a sua produtividade ou nós vamos ter um problema muito sério lá na frente. Temos 12 anos para ter processos menos dependentes de mão de obra intensiva”, prevê, indicando três vertentes nas quais o setor deve trabalhar: sistêmico (economia, política, social, ambiente regulatório), formação de alianças setoriais entre entidades e empresas (que precisam se fortalecer).

A dinâmica das responsabilidades na construção civil foi o tema desenvolvido pelo advogado Carlos Del Mar, que falou sobre três marcos regulatórios do setor. Primeiro, o Código de Defesa do Consumidor, que estabeleceu a obrigatoriedade de atendimento às normas técnicas, adequação do produto e a teoria da qualidade, em que o fornecedor tem responsabilidade de adequação durante a vida útil do produto; segundo, o Código Civil, que mudou o prazo de prescrição de 20 para 10 anos; e terceiro, a Norma de Desempenho, que consagra um referencial de qualidade, sugere prazos de garantia e define responsabilidades ao usuário, como manutenção adequada do bem.

O advogado citou o que considera “três boas novidades” para os novos tempos: o BIM (Building Information Modeling), que proporciona interoperabilidade entre os envolvidos em um projeto imobiliário, sendo mais fácil mapear responsabilidades e relacionamentos em um projeto; a reforma trabalhista e a mediação para solução de conflitos: “Em tempos de velocidade, a via judicial não atende. A mediação é o melhor caminho nestes novos tempos, porque coloca as partes para decidirem juntas”.

O encontro foi encerrado com painel interativo coordenado por Roberto de Souza, do CTE, em que os participantes se reuniram em grupos para eleger os principais tópicos discutidos no encontro e direcionar perguntas aos palestrantes.

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Encontro reuniu 150 profissionais de empresas incorporadoras, construtoras e de projetos

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